Título: PASSO A DAR
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Fonte: O Globo, 09/01/2005, Opinião, p. 6

Se a agenda de trabalho do Ministério da Fazenda for seguida à risca, teremos este ano uma grande polêmica no Congresso, comparável àquela das primeiras votações da reforma da Previdência, em 2003. Trata-se da proposta de autonomia do Banco Central , item incluído no documento ¿Reformas microeconômicas e crescimento de longo prazo¿, da Secretaria de Política Econômica do ministério, divulgado na virada do ano. A idéia é levar a proposta aos parlamentares.

A chamada ala esquerda do PT e cercanias são contra, por tradicionalmente demonizarem, mais que tudo, a órbita financeira do sistema capitalista ¿ o Banco Central em particular. Por isso, a controvérsia se assemelhará à criada em torno das mudanças na previdência do funcionalismo público, centelha de um terremoto no PT, e cujo desfecho foi a expulsão de parlamentares petistas. Portanto, trata-se de um assunto que, para ser bem discutido ¿ e deve sê-lo ¿ exige serenidade e informações de background.

O que o ministro Antonio Palocci e equipe defendem não é novidade em muitos países ¿ e não apenas no Primeiro Mundo. O Banco Central americano (Fed) goza de histórica autonomia para defender o poder aquisitivo do dólar. Também são autônomos o Bundesbank alemão, o BC francês, o sueco e o suíço. E ainda os bancos centrais do México, do Peru e da República Tcheca, entre outros.

É claro, portanto, que há boas razões para isso. Entre os vários argumentos concretos, e já comprovados, a favor da autonomia do BC, um se destaca: ela concede alto grau de segurança institucional à sociedade, capaz de reduzir prêmios e taxas de risco embutidos em juros e preços.

Vacinar a condução da política monetária contra interferências políticas é a questão-chave. O Brasil está pronto para dar esse passo, depois de instituir o sistema de metas de inflação e o câmbio flutuante ¿ também como inúmeros e sérios países. A autonomia melhora as condições de o BC perseguir objetivos de equilíbrio macroeconômico definidos pelo Poder Executivo. Assim, não se trata de um cheque em branco. E é um avanço fundamental para melhorar ainda mais o status da economia brasileira no mundo.