Título: LULA QUER RELAÇÃO PACÍFICA COM PSDB
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Fonte: O Globo, 09/01/2005, O país, p. 10

Presidente tranqüiliza Serra e orienta subordinados a evitar luta política

BRASÍLIA. A ordem no Palácio do Planalto é evitar que o clima de guerra entre tucanos e petistas se instale em Brasília. o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou aos petistas que tentem manter uma convivência pacífica com a oposição, especialmente o PSDB. O sinal mais claro dessa disposição aconteceu semana passada: para contornar a crise paulistana, Lula abriu um canal direto com o prefeito de São Paulo, José Serra.

Lula disse a Serra que ignorasse a ira oposicionista do PT municipal e garantiu empenho pessoal para resolver os problemas de São Paulo. A disposição de Lula acabou tornando menos tensas as relações entre tucanos e petistas, e o resultado foi imediato. Serra pôs panos quentes na crise iniciada com a divulgação da dívida herdada da gestão Marta Suplicy (PT).

O Planalto pretende priorizar as relações administrativas e evitar ao máximo as disputas políticas.

¿ O eleitor escolheu na maior parte das cidades prefeitos que são de partidos diferentes dos governadores e do presidente da República. Isso leva ao amadurecimento político. É preciso separar as questões administrativas das posições partidárias ¿ disse o ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, que também conversou com Serra durante a sua primeira semana na prefeitura.

Genoino: ¿Nossa estratégia é manter um clima pacífico¿

Todo esse esforço não é por acaso. No início da semana passada, numa reunião da coordenação política, Lula voltou a repetir para seus interlocutores que deseja que este ano seja o mais tranqüilo possível, principalmente no Congresso. Assim, espera colher os frutos dos dois primeiros anos de seu governo.

Como parte desse esforço, o presidente condenou a articulação de Marta que levou à derrota do candidato de Serra à presidência da Câmara de Vereadores de São Paulo.

¿ Nossa estratégia é manter um clima pacífico e de tranqüilidade com a oposição. Não queremos e não vamos anexar a crise paulistana ao governo Lula. A briga de São Paulo não vai contaminar a relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Respeitando os nossos papéis, pode e deve haver diálogo entre governo e oposição ¿ disse o presidente do PT, José Genoino.

No PSDB o clima também não é de beligerância. Prova disso foi o apoio tucano ao candidato do Planalto para a presidência da Câmara, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), no momento em que ele começava a enfrentar dissidências na base do governo. O mesmo já havia acontecido no fim do ano passado com o acordo para votar a Lei das Parcerias Publico-Privadas. No plano nacional, o PSDB quer mostrar que pode fazer uma oposição com responsabilidade.

¿ Não devemos contaminar problemas locais, como o de São Paulo, com assuntos de interesse do país. Nós, PSDB e PT, somos naturalmente competidores por sermos as duas principais forças partidárias. Mas não há orientação para acirrar o clima entre nossas relações. Temos que ter uma convivência civilizada. Agora, quem tem o poder na mão é que dá o tom da relação ¿ diz o líder do PSDB na Câmara, deputado Custódio de Matos (MG).

Azeredo diz que Planalto precisa controlar sua base

O presidente em exercício do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), reforça a idéia de que cabe ao governo ter o comando sobre o PT e aliados para evitar desgastes como o que ocorreu em São Paulo nos últimos dias.

¿ A postura do PSDB é de diálogo e cobrança. Mas falta uma atuação mais harmônica do Planalto com os seus liderados. Cabe ao governo conseguir sintonia interna em sua base e cumprir os acordos com a oposição ¿ diz Azeredo.