Título: Para presidente do G-10, investidores ainda pretendem investir no Brasil
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 11/01/2005, Economia, p. 23

BASILÉIA (Suíça). O presidente do Banco Central Europeu (BCE) e do G-10 (grupo que reúne os mais poderosos bancos centrais do mundo), Claude Trichet, disse ontem que o apetite dos investidores por riscos em diversos mercados continua grande. O presidente do BC, Henrique Meirelles, recebeu a avaliação do G-10 com entusiasmo: isto significa, segundo ele, mais dinheiro disponível para os países emergentes, entre eles o Brasil:

¿ Isso se traduz em uma maior disponibilidade de capital e tendência de queda do risco-Brasil. É uma boa notícia. A conclusão é que os mercados ainda estão vendo riscos baixos no sistema, o que tem impacto direto para todas as classes de emissores de papel, particularmente dos emergentes. Isso significa que os mercados continuam prevendo uma situação favorável para países como o Brasil ¿ disse.

Trichet, normalmente cauteloso nas palavras, não poupou adjetivos num comentário sobre a economia brasileira. Ao sair ontem de uma reunião com os principais bancos centrais do mundo, ele disse que os últimos dados sobre o Brasil são ¿muito impressionantes¿. Segundo Trichet, o crescimento nos países emergentes, não apenas na América Latina, mas também na Ásia, explica, em parte, o otimismo dos bancos centrais em relação ao crescimento global este ano.

¿ Em geral, o mundo emergente se comportou muito bem em 2004. Nossa expectativa é que continue a se comportar bem em 2005 ¿ disse, salientando que a expansão da economia mundial hoje é muito dependente do crescimento nos países emergentes.

Desvalorização do dólar não afetará tanto o Brasil

Meirelles disse que o Brasil não deverá ser tão afetado pela desvalorização do dólar quanto outros países na Ásia e na Europa:

¿ Os países mais dependentes de exportações para os EUA, como alguns asiáticos e europeus, são os que mais vão sentir o efeito da desvalorização do dólar. O Brasil é considerado um país que tem uma dependência relativamente baixa, na medida em que apenas 21,5% de nossas exportações são para os EUA.

O G-10 está otimista em relação às perspectivas para a economia mundial em 2005. Os bancos estão prevendo crescimento em torno 4%, um pouco menor do que em 2004. Trichet disse que, apesar de persistirem alguns riscos, como as variações das cotações do petróleo, o G-10 acredita que o grande impacto da alta do preço da commodity talvez já tenha sido absorvido. Isso explica, por exemplo, os baixos níveis do prêmio de risco e da volatilidade em vários mercados. Ou seja: os mercados não estão antecipando grandes problemas pela frente.

Trichet enumerou três riscos que poderão atrapalhar o cenário otimista atual, frisando que é preciso manter vigilância. Um é a evolução do preço do petróleo. Outro risco é o que ele qualificou de desequilíbrios externos. Embora não tenha mencionado, todos entenderam que um desses riscos são os déficits gêmeos (orçamentário e comercial) dos EUA. O terceiro problema, segundo ele, é a possibilidade de os mercados avaliarem mal o tamanho dos riscos. No fim, ele derrubou as hipóteses mais pessimistas ao salientar que a economia deu provas de flexibilidade.