Título: Medo leva paulistas a procurar celular com GPS
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 12/01/2005, O País, p. 8

Lançado no Brasil há pouco mais de dois meses, um serviço que permite localizar um aparelho celular com margem de precisão de poucos metros já conta com mais de 500 mil usuários. O objetivo anunciado na publicidade do produto era fornecer um instrumento que possibilitasse aos pais de adolescentes monitorar os filhos. Mas, em meio à paranóia de insegurança que atinge os moradores das grandes cidades, muita gente tem comprado o serviço para se defender de seqüestros ou outras formas de violência.

¿ Comprei porque achei o serviço bacana, mas a segurança veio em primeiro lugar. Ainda mais com essa onda de seqüestros-relâmpagos ¿ diz o consultor de informática Ricardo Gomes dos Santos, de 26 anos.

Não é à toa que mais de 70% dos usuários estão no estado de São Paulo, 40% na capital. Segundo números do Ministério da Justiça, o estado registrou 118 dos 375 seqüestros contabilizados em 2003, ou seja, 31% do total nacional. Os números de 2004 ainda não estão fechados, mas até o terceiro trimestre foram constatados 83 seqüestros no estado, segundo o Serviço de Informações Criminais da Divisão Anti-Seqüestro da Polícia Civil.

Para especialistas, aparelho não resolve problema

Segundo policiais e especialistas em segurança ouvidos pelo GLOBO, esse tipo de celular é mais uma ferramenta a serviço da polícia, mas está longe de ser uma solução para a questão dos seqüestros.

¿ O serviço ajuda, mas não resolve ¿ afirma Tarik Sarhan, diretor da empresa de rastreamento Wise Track.

Um policial civil, que pediu para não ser identificado, concorda com Sarhan. Segundo ele, a primeira coisa que um seqüestrador faz é desligar o celular da vítima.

¿ Mesmo assim, a nova tecnologia permite que a polícia saiba em poucos minutos onde o seqüestro ocorreu e chegue ao local em tempo de encontrar testemunhas. É um grande avanço e, com auxílio de um profissional em segurança privada, pode ser potencializado ¿ disse Ricardo Chimelli, dono da RCI First Security and Inteligence Advising, uma das maiores empresas de segurança pessoal e gestão de riscos do Brasil.

O serviço mistura as tecnologias de telefonia celular e GPS, e funciona em qualquer lugar em que haja sinal de celular. Assim é possível localizar o aparelho com uma precisão de até dez metros. Nos EUA, no Japão e na Coréia, mais de cinco milhões de pessoas usam o serviço. Nesses países, porém, o equipamento serve para recreação e como utilidade pública. Além de localizar o usuário, o celular com GPS também oferece opções dos melhores itinerários urbanos e aponta cinemas, bares e restaurantes mais próximos do cliente.

A empresa de telefonia que tem o serviço garante segurança absoluta quanto ao acesso às informações.

¿ A localização só acontece quando autorizada pelo usuário a partir de seu aparelho ou pré-cadastrando pessoas autorizadas. Não existe outro jeito ¿ garante Alex Jucius, gerente de novos serviços da empresa.

Preços tornam serviço acessível à classe média

Graças aos preços acessíveis, a nova ferramenta está virando mania na classe média e entre pessoas que não se encaixam no perfil clássico dos seqüestráveis. Ao contrário de outros aparelhos de segurança, como os chips subcutâneos, cuja implantação custa R$ 27 mil, o celular com GPS é vendido por R$ 1 mil, em média, e um cartão com quatro acessos vale menos de R$ 10.

Pensando assim, a advogada Janaína Amorim Ribeiro, de 30 anos, e o namorado compraram os aparelhos em dezembro, numa promoção, e desde então usam o serviço todos os dias.

¿ Não comprei para monitorar meu namorado, mas ele sempre carrega valores, e como instrumento de segurança o serviço é primordial. Não tenho o perfil econômico de um alvo de seqüestro, mas numa ação relâmpago ninguém pergunta qual a sua profissão ou quanto você ganha por mês. Em uma cidade como São Paulo, todo mundo está sujeito a uma violência desse tipo. Poder saber a qualquer hora onde estão as pessoas com quem você se preocupa dá tranqüilidade ¿ diz ela.