Título: Preços sem remédio
Autor: Ledice Araujo
Fonte: O Globo, 12/01/2005, Economia, p. 23

O salto de 31% na venda de medicamentos genéricos no ano passado acirrou a concorrência entre as farmácias, que voltaram a oferecer descontos de até 40% sobre os preços de tabela. Neste clima de disputa, os consumidores devem ficar agora mais atentos aos preços. Em casas do mesmo bairro, eles apresentam diferenças de até 52%. Como o antiinflamatório Scaflam, encontrado por R$ 11,82 e até R$ 17,99.

A participação maior dos genéricos, com preços 30% em média mais baratos que os de referência (marca), contribuiu também para conter os reajustes das indústrias. De acordo com as pesquisas do IBGE, os produtos farmacêuticos tiveram alta de 6,93% no ano passado (até novembro). Mas os de venda livre, como analgésicos e antitérmicos, apresentaram reajuste maior: 10,90%. O índice de aumento do material para curativo foi ainda mais expressivo: 11,05%, ou seja, bem acima do IPCA de 7,8% estimado para 2004.

São produtos em geral de preços menores mas, ainda assim, o consumidor deve bater perna para procurar as ofertas. O antitérmico Novalgina, por exemplo, varia de R$ 7,57 a R$ 9,10 (20%). O pacote de algodão da mesma marca (50g) custa de R$ 0,90 a R$ 1,25 ¿ 38% de diferença.

Anvisa: consumidor deve pesquisar

O diretor de Administração da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Luís Milton Veloso, explicou que os descontos, entre 10% e 30%, sempre foram um atrativo para o consumidor. As reduções sobre os preços máximos de tabela são obtidas com negociações e formas de pagamento facilitadas com as indústrias. A participação maior dos genéricos vem favorecendo o acirramento das promoções porque o consumidor passou a ter mais uma opção para economia dos gastos.

¿ Se os descontos estão aumentando, isto é ótimo. O consumidor deve mesmo pesquisar para comprar mais barato.

Veloso considera bastante positivo o crescimento da venda de genéricos, o que reflete a consciência maior dos brasileiros sobre as vantagens dos preços e a garantia da qualidade dos produtos. Até os balconistas das farmácias passaram a orientar melhor os clientes. É o que constatou ontem o bancário Orlando Ferreira ao procurar o antibiótico Binotal, oferecido a R$ 27,33 (18 comprimidos). O genérico, disse um funcionário, estava por R$ 12,90 ¿ 52% mais barato.

¿ Este fato é muito bom. Antes, recomendava-se muito mais os similares, que agora terão de passar por testes para manterem-se no mercado como remédio de marca ou genéricos. Afinal, hoje temos cerca de 15 mil apresentações sob controle e 1.800 com venda livre e o mercado mostra-se mais acessível ao consumidor ¿ disse o diretor da Anvisa.

O presidente do Sindicato das Farmácias do Rio, Felipe Terrezo, afirmou que os descontos maiores são oferecidos por grandes redes que barganham descontos maiores com as indústrias. Esta concorrência vem destruindo as pequenas farmácias de bairro, que, sem conseguir competir, fecham as portas.

¿ O consumidor corre atrás de preço. Em breve as farmácias seguirão o destino dos açougues: quase todos fecharam no Rio.

Para economizar nos gastos, a secretária Silvana Lopes recorre aos medicamentos genéricos. Um deles, o antibiótico amoxicilina, sai bem mais em conta que o remédio de marca. Mas ela admite que gostaria de ter mais esclarecimentos e garantias sobre os efeitos terapêuticos, se são realmente os mesmos dos remédios conhecidos no mercado.

¿ Eu compro genérico para mim. Já para tratar meu filho só levo o de marca. O médico mesmo não recomenda genérico para ele. Podemos ter uma boa economia com os genéricos, mas precisamos de mais segurança ¿ desabafou ela.