Título: Indústria teve em 2004 melhor ano desde 1986
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 12/01/2005, Economia, p. 25
O leve recuo da produção industrial em novembro ¿ queda de 0,4% frente a outubro ¿ não representou um freio brusco no setor. Na avaliação do IBGE, que divulgou ontem a Pesquisa Industrial Mensal de novembro, a taxa indica que houve uma estabilização, depois de meses de forte crescimento. Mesmo com essa acomodação, a indústria brasileira este ano deve registrar a maior taxa desde o Plano Cruzado, diz o instituto. Já acumula expansão de 8,3% de janeiro a novembro, taxa superior aos 7,6% de 1994, ano de implantação do Plano Real, e próxima dos 10,93% registrados no Plano Cruzado, quando a economia brasileira crescera 7,5%. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 8,1%.
¿ O crescimento de 2004 deve ser o maior desde 1986. Até novembro, a taxa já chegou a 8,3%. Além disso, estamos vendo o prazo mais longo de crescimento seguido. São 15 meses de taxas positivas, desempenho só visto entre agosto de 1999 e maio de 2001.
O levantamento indica também mudança no perfil de aceleração do ritmo industrial, com o setor de não-duráveis (vestuário e alimentos), mais voltado para mercado interno, com a maior taxa do mês (0,5%).
¿ É de se esperar uma acomodação diante das taxas altas de crescimento do segundo semestre de 2003. Mesmo assim, a indústria manteve o ritmo. Frente ao mesmo mês do ano passado, a elevação foi de 8,1% ¿ disse Silvio Sales, coordenador de indústria do IBGE.
Para o economista do instituto, tudo indica que o setor apresentará a maior taxa desde o Cruzado:
Emprego deve reagir mais com alta em não-duráveis
Alcançar desempenhos superiores ou próximos de planos de estabilização mostra o fôlego da indústria, na opinião do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Estevão Kopschitz.
¿ O crescimento não veio só do fim da inflação que deu mais poder aos salários e impulsionou o consumo, como nas outras épocas. É conseqüência de um processo mais longo ¿ disse o economista.
A melhora no mercado de trabalho, com mais pessoas empregadas e mais dinheiro para o consumo, já se refletiu no setor de bens não-duráveis, o único que apresentava taxa baixas ou até queda. O reflexo no setor voltado para o mercado interno, por isso seu desempenho é tão dependente da renda e do emprego, aparece na alta na produção de 0,5% contra outubro e de 6,6% contra o mesmo mês de 2003.
¿ O crescimento da produção não será tão robusto quanto o de 2004, mas deixará a indústria menos vulnerável aos choques externos. Já que a demanda pelos produtos virá do mercado interno ¿ afirma Alex Agostini, economista da Consultoria JRC Visão.
Sales, do IBGE, lembra que a indústria de bens não-duráveis gera mais emprego e ajudará a melhorar o mercado de trabalho.
Presidente da Fiesp critica dólar baixo e juros altos
A produção de bens de capital vem perdendo ritmo. Subiu 0,2% contra outubro e 4,4% ante novembro de 2003, depois de registrar sucessivas taxas superiores a 10%. Mas esse desempenho não indica um esfriamento no investimento na produção, segundo Sales:
¿ Apenas os equipamentos para a agricultura apresentaram queda (15%) frente a novembro do ano passado. A construção pesada, por exemplo, subiu 50,1% e bens para indústria, 14,1%.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse ontem que a queda na produção industrial em novembro indica tendência que deve se repetir em dezembro e mostra como será 2005 no setor.
¿ Vai ser muito difícil termos o desempenho que tivemos em 2004, quando nossa referência foi 2003, um ano bastante ruim. Mas para 2005 a referência é 2004, que foi bastante positivo ¿ disse Skaf.
O presidente da Fiesp disse ainda que a manutenção de dólar baixo e juros altos vai desestimular o investimento e tirar a competitividade dos produtos brasileiros na hora de exportar. O câmbio nos níveis atuais, disse Skaf, serve apenas como estímulo à importação.