Título: Barreira econômica
Autor: Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 12/01/2005, O Mundo, p. 31

Planejar é fácil, diz o ministro do Planejamento e do Trabalho palestino, Ghassan Khatib. Aliás, ele já tem na gaveta um plano para os primeiros três anos de governo de Mahmoud Abbas, eleito domingo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Difícil será executá-lo sem antes negociar com Israel.

Desde 2000, israelenses ergueram centenas de barreiras ao redor e dentro de Cisjordânia e Faixa de Gaza. Essas restrições à circulação de pessoas e bens tiveram um impacto econômico devastador.

¿ Em quatro anos, nosso Produto Interno Bruto foi reduzido à metade e o índice de desemprego atingiu 37% da população economicamente ativa. Se Israel completar o muro de 700 quilômetros a Cisjordânia perderá 20 mil postos de trabalho. Mais pobreza gera mais violência e com violência não há paz ¿ disse Khatib ao GLOBO.

Quando se fala em barreiras, a primeira imagem é de filas de carros palestinos num posto de controle. Ou de famílias israelenses vivendo em condomínios fechados, protegidos por guardas e agora por um muro de nove metros, com medo de homens-bomba. Menos visível é a gradual destruição da economia palestina, provocada pelas barreiras.

250 mil empregos perdidos em Israel

Um exemplo: quatro anos atrás um fabricante de biscoitos de Gaza podia ¿exportar¿ sua mercadoria para a Cisjordânia. De manhã, seu caminhão passava pelo posto de controle fronteiriço, cruzava um trecho de Israel e em uma hora estava em Hebron. No fim da noite chegava a Jenin, tendo cruzado a Cisjordânia e feito entregas em dezenas de cidades. Hoje nenhum veículo palestino pode sair da Faixa de Gaza via Israel. O mesmo fabricante de biscoitos tem que descarregar o caminhão no posto fronteiriço e contratar um caminhão israelense para levar a mercadoria até Hebron.

¿ Se ele quiser distribuir biscoitos no resto da Cisjordânia terá de contratar outro caminhão palestino, que passará por vários postos de controle. A viagem fica tão cara que se torna inviável ¿ explicou o vice-ministro do Planejamento, Jihad al-Wazir.

Além de não poderem construir uma indústria própria, com as barreiras os palestinos perderam o direito de trabalhar em Israel. Segundo Khatib, quatro anos atrás 150 mil palestinos tinham emprego em Israel e outros cem mil trabalhavam sem carteira assinada. Agora estão desempregados.

Ontem, a apenas 12 quilômetros do gabinete do ministro, em Ramallah, três caminhões subiam uma colina. Estavam continuando a construção do muro que separa palestinos de israelenses, mas que também invade a Cisjordânia, separando palestinos de palestinos.