Título: Indonésia limita ajuda a vítimas de tsunami
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Fonte: O Globo, 12/01/2005, O Mundo, p. 32

A Indonésia está restringindo a movimentação das equipes de ajuda humanitária na província de Aceh ¿ a mais devastada pelas ondas gigantes criadas pelo terremoto de 26 de dezembro ¿ alegando ameaças de separatistas. As autoridades anunciaram também que as agências de ajuda humanitária precisam de permissão para trabalhar fora da capital da província, Banda Aceh, e de Meulaboh.

Budi Atmaji, chefe das operações de assistência, disse que a segurança das equipes de ajuda não poderia ser garantida em algumas áreas da ilha de Sumatra, onde fica a província e onde o Movimento Aceh Livre ¿ conhecido como GAM ¿ luta pela independência desde 1976. Os militares querem que as agências façam uma lista com os nomes dos funcionários e informem a sua movimentação.

Para especialista, governo tenta se fortalecer na região

O GAM negou as acusações e disse que nunca atacaria socorristas. O grupo de ajuda Oxfam, por sua vez, disse acreditar que os rebeldes não sejam ameaça.

¿ Nunca atacamos e nunca atacaremos membros da ajuda humanitária, sejam estrangeiros ou indonésios ¿ disse Sofyan Dawood, porta-voz do braço militar do grupo.

O analista de segurança Sidney Jones acredita que o governo indonésio esteja tentando fortalecer seu controle.

Já o grupo Frente de Defesa Islâmica advertiu membros estrangeiros das agências de ajuda humanitária a não se afastarem do objetivo de sua missão.

¿ Podemos trabalhar juntos, mas se vierem com objetivo oculto, como colonialismo, imperialismo ou religioso, será muito perigoso ¿ disse Hilmy Almascaty, um dos líderes.

As ondas gigantes mataram cerca de 157 mil pessoas ¿ 105.500 somente na Indonésia, que foi afetada tanto pelo tremor quanto pelas tsunamis.

Na Tailândia, onde 5.309 morreram, a Interpol e a polícia lançaram o maior sistema de identificação de vítimas da História. Centenas de corpos enterrados às pressas após as tsunamis terão que ser exumados. Mais de 400 especialistas de 30 nações estão trabalhando no país.

Identificação pode levar mais de seis meses

Na ilha de Phuket, especialistas pedem calma a parentes das vítimas, advertindo que a identificação dos corpos ¿ através do cruzamento de informações como arcada dentária, impressão digital e testes de DNA ¿ deve levar meses.

¿ Não seria descabido esperar que dure mais de seis meses ¿ disse o policial australiano Jeff Emery, que dirige o Centro de Informação de Identificação de Vítimas da Catástrofe, aberto em Phuket.

Em Genebra, os países doadores se comprometeram a enviar US$ 717 milhões à ONU para a ajuda imediata às vítimas. A soma representa 73% dos US$ 977 milhões pedidos na semana passada pelo secretário-geral da organização, Kofi Annan, para cobrir as necessidades nos próximos seis meses. É a primeira vez que a ONU consegue recolher uma quantia tão grande em tão pouco tempo.