Título: Apagão insistente
Autor: Ramona Ordoñez/Aloysio Balbi/Carlos Orletti/Martha
Fonte: O Globo, 08/01/2005, ECONOMIA, p. 21

Queda de raio provoca nova falta de luz nos estados do Rio e do Espírito Santo

Um novo apagão atingiu ontem à tarde os estados do Rio e do Espírito Santo. No primeiro dia do ano, os dois estados e parte de Minas já haviam sofrido um blecaute, por defeito técnico seguido de falha humana. Desta vez, segundo Furnas Centrais Elétricas e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), curtos circuitos provocados por raios causaram o desligamento das duas linhas de transmissão de 345 quilovolts (kV) que transportam energia da subestação de Adrianópolis, na Baixada Fluminense, a Vitória (ES), passando por Macaé e Campos. Com isso ficaram sem luz por cerca de 40 minutos todo o Espírito Santo e as regiões Norte, Noroeste, dos Lagos e parte da Serrana (Petrópolis e Teresópolis) no Rio.

A energia foi cortada às 15h17m, voltando a ser restabelecida quase totalmente às 15h58m. Alguns locais ainda ficaram sem luz até 16h34m. O presidente de Furnas, José Pedro de Oliveira, garantiu que o acidente de ontem não tem qualquer ligação com o anterior - ocorrido em linhas que chegam a Adrianópolis e Angra. Segundo ele, o apagão de ontem mostrou que os equipamentos de segurança estão funcionando bem. Eles detectaram a grande concentração das descargas atmosféricas e desligaram as linhas:

- E por não terem sofrido danos essas linhas puderam voltar a funcionar em pouco tempo.

Nova linha de Ouro Preto-Vitória vai reforçar região

No domingo, o diretor de Operações de Furnas, Fábio Resende, chegou a alertar para o risco de novos blecautes, por causa do aumento do consumo, mas as declarações foram rebatidas pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Ontem, ela voltou a afirmar que o país não corre risco de apagões ou racionamento.

- Apagões e racionamentos decorrem de problemas estruturais, seja por descasamento de demanda e oferta de energia ou por linhas de transmissão insuficientes. Nenhuma dessas situações existe hoje - disse Dilma. - Nenhum sistema do mundo, por mais robusto que seja, fica totalmente imune a problemas como a queda de raios.

A ministra reconheceu que o Espírito Santo tem deficiências no fornecimento porque é um estado de ponta de linha. A energia que chega ao local já passou por muitas oscilações, o que pode afetar o abastecimento. O presidente de Furnas explicou que essas regiões ficarão menos vulneráveis quando entrar em operação, em março, a linha Ouro Preto-Vitória. As obras atrasaram dois anos por questões ambientais.

Furnas e o ONS garantiram que o sistema de transmissão tem recebido os investimentos necessários em manutenção e ampliação. Oliveira explicou que este ano Furnas investirá R$1 bilhão, dos quais R$600 milhões em operação, manutenção e reforço das linhas.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou ontem que os trechos desligados com a queda do raio foram: Adrianópolis-Macaé, Macaé-Campos, Campos-Vitória, Governador Valadares-Mascarenhas, Campos-Rocha Leão e Campos-Cachoeiro do Itapemirim.

As maiorias cidades do interior do Rio - Campos, com meio milhão de habitantes, e Macaé, com 200 mil - foram as que mais sentiram os efeitos de 40 minutos sem luz. Os sinais de trânsito apagados provocaram confusão nas principais avenidas. Geradores garantiram o funcionamento dos centros cirúrgicos e unidades de tratamento intensivo (UTIs). Na lavoura, os produtores se queixam de que o trabalho de irrigação fica comprometido e que bombas elétricas acabam sendo danificadas. Há também interrupções na produção de empresas. Em Vitória, um acidente de carro seguido de atropelamento foi provocado pela ausência de sinalização eletrônica de trânsito. Pessoas também ficaram presas em elevadores.