Título: ANALISTAS: HÁ PROBLEMA NA TRANSMISSÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 08/01/2005, ECONOMIA, p. 22

Segundo especialistas, erros na gestão do sistema também geram riscos

Com o segundo apagão no Rio e no Espírito Santos na mesma semana, os analistas que acompanham o setor elétrico consideram que o problema de queda de energia não pode ser visto como algo isolado. Falhas nas linhas de transmissão e erros no gerenciamento do sistema pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) são algumas das causas apontadas pelos especialistas que podem trazer risco de novos apagões.

Para o professor Helder Queiroz, diretor de Pesquisa do Instituto de Economia da UFRJ, os apagões podem ser um sinal de que existem problemas no suporte de carga das linhas de transmissão.

Analista diz que é preciso definir uso de termelétricas

A causa, segundo ele, pode estar na forma como o ONS gerencia o sistema.

- Energia existe. O fato é que é preciso investigar os procedimentos do ONS no gerenciamento desta energia. É no mínimo estranho dois apagões em uma semana. Desse jeito não há como garantir que não teremos outros apagões no Rio e no Espírito Santo nos próximos dias. O governo não pode mais apontar culpados imediatos e atribuir o problema a falhas humanas ou efeitos da natureza. O sistema precisa ter o mínimo de confiabilidade. O ONS precisa deixar mais transparentes as regras de gerenciamento - diz Queiroz.

Para uma fonte ligada ao setor é inviável pensar em quedas de energia em um espaço tão curto de tempo com toda capacidade existente, principalmente com o país registrando crescimento.

- Talvez os investimentos em manutenção não estejam acontecendo da forma como o governo diz. A preocupação antes era evitar um possível apagão em 2008 com investimentos de R$15 bilhões. De nada adianta pensar no futuro sem resolver falhas que comprometem agora o crescimento da economia.

De acordo com dados do Ministério de Minas de Energia, estão programados investimentos na ampliação das atuais linhas de transmissão, construção e licitação de novas redes, com recursos de R$2,7 bilhões. Somente em obras emergenciais são estimados investimentos de R$6,2 bilhões até 2007.

Governo precisa pensar no papel das termelétricas

O analista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), também acredita que o ponto fraco está nas linhas de transmissão. Para ele, o crescimento da economia no ano passado e um começo de ano com forte calor estão colocando o sistema à prova, e o resultado é que as linhas de transmissão não estão suportando tanta carga.

- Os apagões de hoje (ontem) e do dia 1º podem ter sido causados de fato por problemas na transmissão. Essa hipótese é muito grave. Os apagões mostram que o sistema de transmissão das estatais está pior do que se imagina. Por isso o governo precisa pensar no papel das térmicas e definir de uma vez seu uso no auxílio emergencial ao sistema - diz Pires.

Para o analista, o governo não pode mais encobrir os gargalos com desculpas.

- Desculpas não colam mais. O sistema está dando provas de que não está suportando. Além do calor, há também o aquecimento da indústria. Com isso, corremos o risco de apagões periódicos - afirma.

Legenda da foto: POLICIAL ORGANIZA o trânsito em Vitória ontem, durante o apagão