Título: MAREMOTO: RICOS ADMITEM CONGELAR DÍVIDAS
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Fonte: O Globo, 08/01/2005, O MUNDO, p. 30
G7 aprova medida para socorrer vítimas de tragédia. Ajuda prometida no mundo chega a quase US$6 bi
LONDRES. Ministros da Fazenda do Grupo dos Sete (G7, que reúne os sete países mais ricos) concordaram ontem em congelar as dívidas externas de países atingidos pelas ondas gigantes e disseram que trabalharão com o Clube de Paris (de países credores) para decidir como farão isso. O Clube de Paris se reunirá na próxima quarta-feira.
O ministros se comprometeram ainda a pedir ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao Banco Mundial e a outras instituições internacionais que façam o maior esforço possível para ajudar os países afetados pela catástrofe.
Em comunicado, o G7 disse que serão congeladas as dívidas dos países que o quiserem. "Não esperaríamos o pagamento de dívidas de países afetados que pedirem isso até que o Banco Mundial e o FMI tenham avaliado completamente as necessidades de reconstrução e as condições de financiamento, reconhecendo que alguns países podem não ser capazes de pagar suas dívidas", afirmou.
Os países afetados têm dívidas que somam cerca de US$272 bilhões. A Indonésia é o país mais devastado e com a maior dívida: deve US$48 bilhões ao Clube de Paris.
"Onde estão as pessoas?", pergunta Annan, chocado
Reunidos quinta-feira em Jacarta com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, representantes de 26 países apoiaram uma moratória das dívidas externas dos países afetados.
A promessa de ajuda de governos, pessoas e corporações chegou ontem a quase US$6 bilhões, quantia sem precedentes num caso de desastre natural - de proporção também sem precedentes na História.
Doze dias depois do maremoto, Annan observou ontem de helicóptero a devastada paisagem da província indonésia de Aceh - onde morreram dois terços do total de vítimas da catástrofe - e, ao fim do vôo, comentou, chocado:
- Nunca havia visto uma destruição tão completa, milha após milha. Você fica pensando... onde estão as pessoas? O que aconteceu com elas?
Equipes de socorro voltaram ontem sua atenção para centenas de milhares de pessoas que estariam em áreas isoladas da ilha de Sumatra, onde fica Aceh. O governo indonésio acrescentou mais de sete mil mortos ao total de vítimas do país, que chegou a 101.318 - num total de cerca de 155 mil em 13 países atingidos.
A ONU alertou que o paradeiro de dezenas de milhares de pessoas ainda é desconhecido e que o número de mortos pode aumentar muito se doenças atingirem sobreviventes sem acesso a alimentos e água potável. O coordenador da equipe da emergência das Nações Unidas, Jan Egeland, afirmou:
- Acho que não estamos sequer perto de saber quantas pessoas morreram, quantas estão desaparecidas e quantas foram seriamente afetadas.
No Sri Lanka, o secretário de Estado americano, Colin Powell - que já visitara a Indonésia - sobrevoou ontem áreas atingidas pelas ondas gigantes e se mostrou impressionado com o que viu. Trinta mil pessoas morreram no país, onde cidades costeiras se transformaram em montes de escombros.
- Mais do que paredes derrubadas e prédios desabados, vidas foram esmagadas e varridas - disse Powell.
A expectativa de que a tragédia serviria para semear a paz entre governos de países atingidos e grupos rebeldes foi reduzida ontem. No Sri Lanka, o grupo separatista Tigres da Libertação da Pátria Tamil advertiu que haverá sérias conseqüências se soldados do governo - que fazem operações de socorro - não se retirarem de áreas por ele controladas. E reclamou que pouca ajuda tem chegado a essas áreas. Já o governo indonésio e o Movimento Aceh Livre se acusaram mutuamente de causar problemas um ao outro.
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Legenda da foto: VOLUNTÁRIOS removem o corpo de uma vítima das tsunamis de um refrigerador em Takuapa, Tailândia: o número de mortos já chega a 155 mil