Título: Política óbvia
Autor:
Fonte: O Globo, 13/01/2005, O país, p. 6
Ainda na campanha eleitoral para a Presidência, o PT apresentou uma proposta de política de segurança pública elogiada até por tucanos. E um dos pontos principais da sugestão era a integração das forças policiais em todos os níveis da administração ¿ municipal, estadual e federal. Vencida a eleição por Luiz Inácio Lula da Silva, o plano começou a ser aplicado, com percalços políticos e também financeiros. Mas onde a filosofia de trabalho conjunto entre as polícias foi aplicada, como no Espírito Santo, ela obteve êxito.
No caso desse estado, exemplo de grave infiltração do crime organizado nas instituições, cumpriu papel estratégico no sucesso da experiência a participação da Justiça e do Ministério Público.
Infelizmente, por desavenças político-eleitorais, até agora o governo do Rio de Janeiro e Brasília não conseguiram se entender em torno de um programa comum de combate ao crime.
Portanto, é bem-vinda a nova tentativa de acordo, dessa vez conduzida pelo secretário Marcelo Itagiba, de Segurança. É crucial para o cidadão fluminense, a grande vítima da criminalidade, que Brasília e o Palácio Guanabara cheguem a um entendimento em torno de um plano de ação que precisa ir além da simples constituição de uma força policial comum.
Já é evidente há algum tempo que a usina motriz da criminalidade no Rio e em todo o país ¿ o tráfico de drogas ¿ não pode ter um combate apenas local. Por óbvio, é preciso reprimir as quadrilhas onde elas estão. Mas fazê-lo sem uma repressão dura, porém empreendida com inteligência, às rotas de abastecimento de drogas e armas é o mesmo que enxugar gelo. E para isso são fundamentais a atuação de forma coordenada entre as forças de segurança locais, a Polícia Federal e o apoio logístico e de inteligência das Forças Armadas.
Que dessa vez os projetos políticos pessoais não interfiram nas negociações.