Título: Mais qualidade no emprego
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 13/01/2005, Economia, p. 23
Mais do que um aumento no número de contratações, a melhora do mercado de trabalho em 2005 deve ocorrer graças a uma maior qualidade nas vagas criadas. Economistas esperam que a trajetória de expansão do emprego formal, que ganhou fôlego em 2004, seja continuada, com as indústrias transformando horas extras em contratações, e que a renda do trabalhador, único indicador que não apresentou grandes avanços no ano passado, alcance uma recuperação mais consistente.
Cláudio Dedecca, professor da Unicamp, estima que o emprego formal deve crescer 3% e as vagas sem vínculo empregatício, 4%. Ambos impulsionados por uma melhora nos setores da economia voltados para o mercado doméstico.
Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que o dinamismo verificado no interior e nas cidades de menor porte durante 2004 chegará, enfim, às grandes capitais. O desempenho do mercado de trabalho, diz o economista, tende a ser mais homogêneo pelo país. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o número de vagas formais cresceu 8,06% entre janeiro e novembro de 2004. No interior, o avanço foi de 10,14%, enquanto nas nove regiões metropolitanas do país, a alta foi de pouco mais da metade disso: 5,95%.
Rendimento médio pode aumentar 5%
Já a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, que mede as vagas formais e informais nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil, constatou uma alta de 5,08% no número de ocupados em novembro, frente ao mesmo mês de 2003. Mas o desempenho da renda, pelo IBGE, deixou a desejar: em novembro, a expansão frente a 2003 foi de só 2,6%.
¿ Para 2005, eu colocaria minhas fichas muito mais na qualidade do emprego do que no nível de ocupação ¿ afirma Ramos, do Ipea.
Por qualidade, completa Ramos, entenda-se vagas formais e aumento na renda. Em 2004, já houve melhora no emprego com carteira assinada. Falta agora um avanço maior na renda, diz o economista. Dedecca, da Unicamp, prevê que o rendimento médio do trabalhador deve ter um aumento de 5% este ano.
¿ O comportamento da renda deve ser melhor do que foi em 2004. Os gastos do governo com construção civil e o reajuste do salário-mínimo terão um impacto grande em reativar o mercado doméstico ¿ diz Dedecca. ¿ Mas não podemos esquecer que há uma informalidade enorme no mercado de trabalho e que, para alcançarmos altas expressivas do emprego, a economia precisaria crescer mais do que 5% por muitos anos.
Shoppings prevêem mais 35 mil vagas
Márcio Santos sabe bem como a recuperação do mercado doméstico, esperada por analistas, pode mudar a rotina dos trabalhadores. No último dia 5, foi contratado como copeiro na lanchonete Spoleto do Largo do Machado, na esteira da expansão da rede, que nos últimos dois meses inaugurou três lojas e abriu 60 vagas. Até então, ele trabalhava como segurança, sem vínculo formal, e ganhava de R$ 320 por mês. Na lanchonete, seu salário é de R$ 280, mas a carteira assinada garante vale-transporte e ele ganha cesta básica.
¿ É bem melhor. Como segurança, eram 12 horas por dia e só uma folga semanal. Agora, trabalho seis horas e tenho duas folgas. Dá até para pensar em voltar a estudar ¿ diz Márcio.
Em 2005, a Spoleto deve abrir 35 lojas no país e contratar 525 funcionários. Ontem, a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping informou que criará até 35 mil vagas este ano. Além de comércio e serviços, a indústria voltada ao mercado doméstico também pode ampliar a produção e o emprego, diz Dedecca. Ele cita a construção civil e os setores de alimentação e vestuário.
Em 2004, a indústria aumentou em 1,4% suas vagas até outubro, segundo o IBGE, e deve fechar o ano com o melhor desempenho desde 1986. Os técnicos do IBGE explicam que só nos últimos meses os setores mais intensivos em mão-de-obra, ligados ao mercado doméstico, começaram a se recuperar. Assim, é possível que 2005 seja um ano ainda melhor para o emprego industrial. Já Edward Amadeo, economista da consultoria Tendências e da PUC, lembra que indústrias dependentes do mercado interno são mais informais, pois as vagas sem carteira são freqüentes. Por isso, sua expectativa não é tão otimista:
¿ Em 2005, o emprego formal pode não crescer no mesmo ritmo de 2003 e 2004. O mix vai mudar em direção ao setor informal.