Título: Sharon enfrenta a fúria de colonos
Autor: Monica Yanakiew
Fonte: O Globo, 13/01/2005, O Mundo, p. 30/31

Quem passar por Jerusalém e Ramallah poderá achar que israelenses e palestinos trocaram de lugar. Ou pelo menos de discurso.

Há duas semanas, o Knesset (Parlamento de Israel), em Jerusalém, está cercado por barracas. Apesar da escuridão, que no inverno começa às 17h, diariamente uma pequena multidão enfrenta o frio para ouvir cantos religiosos e protestos contra a ¿ditadura de Ariel Sharon¿. Nem parece que o primeiro-ministro foi eleito num país que proclama-se a única democracia do Oriente Médio.

Ontem Dina Fait passou a tarde sentada ao relento, com os filhos de 1 e 4 anos. Há seis meses ela se mudou de Tel Aviv para um dos assentamentos que estão sendo construídos há décadas nos territórios ocupados.

Dina não corre perigo. Mas cerca de oito mil dos 25 mil judeus que vivem nos assentamentos terão que sair de suas casas se Sharon conseguir implementar seu plano de retirada da Faixa de Gaza. Não será fácil. Apesar de ter formado um governo de coalizão com a centro-esquerda, terá de enfrentar os conservadores de seu partido, o Likud, que estão fazendo o impossível para derrubá-lo.

Sharon aprova orçamento que destina dinheiro para retirada

Apesar de não viver em Gaza, nem ter amigos ou parentes lá, Dina faz questão de levar os filhos ao Knesset ¿para que aprendam a importância de defender nossos direitos e combater a injustiça¿:

¿ Se entregarmos Gaza, os palestinos vão pedir mais.

Consultor estratégico dos moradores dos assentamentos, Yuval Porat explica que os manifestantes não são radicais de direita ou fanáticos religiosos que querem assegurar pela força a Terra Prometida por Deus e defendê-la dos infiéis. Optou por um discurso parecido ao dos palestinos, que há décadas reclamam as terras das quais foram expulsos pelos israelenses.

¿ Queremos paz. Por isso estamos aqui, para dizer que é inviável e imoral negociar um acordo cuja base é a expulsão de milhares de famílias de seus lares. Não somos os únicos a condenar o plano. Pergunte aos palestinos o que acham.

Ontem, do lado de dentro do Knesset, Sharon conseguiu uma vitória política. Foi aprovada a primeira versão do orçamento, que, se tecnicamente não destina dinheiro para a retirada de Gaza, tem uma verba com o nome de ¿reserva¿ que sabe-se que será usada para tal fim.

Ontem, um ataque da Jihad Islâmica matou um cidadão israelense que trabalhava na construção da cerca de proteção no assentamento de Morag, em Gaza. Quatro militares de Israel ficaram feridos e os dois guerrilheiros foram mortos.

Em incursões na Cidade de Gaza e na aldeia cisjordana de Qarwat Beni Zeit, o Exército de Israel matou dois palestinos que seriam membros do Hamas.