Título: Indonésia pede retirada de tropas estrangeiras
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Fonte: O Globo, 13/01/2005, O Mundo, p. 32
Um dia depois de impor restrições ao trânsito de estrangeiros no país, o governo da Indonésia afirmou ontem que as tropas estrangeiras que participam do socorro às vítimas das tsunamis de 26 de dezembro devem ir embora logo que possível, no máximo em 26 de março.
¿ Três meses são suficientes. O quanto antes, melhor ¿ disse Jusuf Kalla, vice-presidente do país mais castigado pelas ondas gigantes.
Perguntado sobre a necessidade de esforços prolongados na Indonésia, Kalla respondeu:
¿ Não precisamos de tropas estrangeiras.
Milhares de soldados de dez países participam do socorro às vítimas do maremoto na Indonésia. O governo está, porém, irritado com a grande presença estrangeira em áreas onde há três décadas separatistas enfrentam forças do governo, embora os dois lados estejam evitando confrontos desde que as tsunamis causaram mais de cem mil mortes na província de Aceh ¿ dois terços do total de 158 mil mortos.
Avô tenta vender duasnetas órfãs no Sri Lanka
Terça-feira, o governo indonésio advertiu que não poderia garantir a segurança de estrangeiros fora das principais cidades atingidas, Banda Aceh e Meulaboh.
Apesar das restrições aos estrangeiros, o chanceler indonésio, Hassan Wirajuda, expressou ontem confiança em que o Clube de Paris aprovasse o congelamento da dívida externa de seu país por um ano para ajudá-lo a se recuperar da catástrofe. Pouco depois, reunido na capital francesa, o grupo de países credores, de fato, acabou aprovando a suspensão da dívida sem condições e sem prazo.
Índia e Tailândia já disseram que conseguem lidar com seus danos, mas Indonésia e Sri Lanka são os países mais necessitados. A Indonésia é o país que tem a maior dívida externa ¿ cerca de US$ 48 bilhões ¿ mas é também considerada um dos mais corruptos, o que levou seu governo a anunciar medidas para evitar que fundos para as vítimas sejam desviados. A Anistia Internacional e outros grupos vão observar o uso de verbas.
Governos já prometeram US$ 5,5 bilhões aos países afetados. A essa ajuda se somam pelo menos US$ 2 milhões oferecidos por pessoas e corporações. Madonna, Stevie Wonder, Eric Clapton e Elton John estão entre os artistas que anunciaram um show em benefício das vítimas.
Num campo de desabrigados no Sri Lanka, a polícia prendeu um homem de 63 anos acusado de tentar vender suas duas netas que perderam a mãe na tragédia. Ele pedia US$ 500 pelas meninas, de 7 e 9 anos, que foram entregues ao pai.
A Índia permitiu pela primeira vez que uma agência de ajuda humanitária entre nas remotas ilhas de Andaman e Nicobar, atingidas pelas ondas gigantes. Funcionários do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) chegaram às ilhas para vacinar crianças. A Índia restringe com rigor o acesso à região, onde vivem isoladas cinco das tribos mais primitivas do mundo. Ali, socorristas estão correndo contra o tempo para construir casas para mais de 40 mil desabrigados antes das monções de abril.
A ONU informou que um sistema de prevenção de tsunamis no Oceano Índico, de US$ 30 milhões, deverá estar pronto em junho de 2006.