Título: A contradição
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 14/01/2005, PANORAMA POLÍTICO, p. 2

A atividade política é a grande vítima toda vez que há um processo eleitoral de disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Os candidatos precisam conciliar os interesses e demandas, muitas vezes incompatíveis, da opinião pública e dos deputados-eleitores. Virtudes viram defeitos e os pretendentes são tentados, e pressionados, a fazer toda sorte de concessões para chegar lá.

O candidato da maior bancada, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), está vivendo este dilema. Ele tem uma trajetória política e profissional, e um discurso, capazes de atender à seriedade e à responsabilidade que a sociedade cobra dos políticos e que o cargo exige. Mas, pelo sistema eleitoral que impera na Câmara, Greenhalgh está sendo pressionado a fazer concessões, como outros fizeram no passado.

Estes acertos, feitos sem transparência, se materializam durante as gestões em aumentos de salários, de verbas de gabinete, de verbas indenizatórias; na ampliação de comissões permanentes e do número de assessores; e na criação de funções como a Procuradoria e a Ouvidoria. E podem até conduzir à absolvição do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), em processo sobre quebra de decoro. Ou então, a que essa disputa pelo poder, mais uma vez, paralise o debate sobre a reforma política. Por isso, muitos políticos, que não agem com o fígado nem são birrentos, acreditam que está na hora de adotar regra rígida que assegure o direito do candidato oficial do partido ou bloco de maior bancada.

¿ É preciso acabar com a disputa pela presidência da Câmara. Isso evitaria esse espetáculo vergonhoso. A disputa é uma forma de subordinar o Legislativo ao Executivo e de aumentar o poder de barganha de partidos pequenos e sem representatividade ¿ diz João Almeida (PSDB-BA).

O petista Luiz Eduardo Greenhalgh está em campanha e assumindo compromissos com os demais parlamentares. Objetivamente, as contestações a sua escolha, na medida em que o fragilizam, podem levá-lo a ceder em demasia, o que o impedirá de contribuir para uma melhor avaliação da atividade político-parlamentar. E depois de eleito, o petista estará diante de uma difícil escolha. Cumprir os acordos que tiver de fazer para se eleger ou, digamos assim, promover um estelionato eleitoral.