Título: O papel de Genoino
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 17/01/2005, Panorama Político, p. 2

O presidente do PT, José Genoino, está sendo crucificado por uma ala do partido. Os que foram derrotados na disputa interna pela indicação à presidência da Câmara o acusam de ter exorbitado e o responsabilizam pela vitória de Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Preterido, Virgílio Guimarães (MG) tem repetido que a bancada não pode ser tutelada pelo presidente do PT ou pelo Executivo.

O petista quer fazer crer que só perdeu a disputa por interferência de forças ocultas, superiores e externas. Mas os fatos mostram que Genoino e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também saíram derrotados. Genoino simpatizava com a candidatura do líder da bancada, Arlindo Chinaglia (SP). O presidente Lula via com naturalidade que o escolhido fosse Chinaglia. Este, com os apoios internos de peso que tinha, passou a articular com os líderes dos partidos aliados. Tanto que, no dia posterior à escolha, Chinaglia estava perplexo:

¿ Não consigo entender, não era para ser assim.

Lula, Genoino e Chinaglia subestimaram a candidatura Virgílio, que tinha como cabo eleitoral o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), e já fazia campanha junto a deputados de outros partidos. Tendo sido o mais votado na bancada, Virgílio dormiu presidente da Câmara. Mas a noite de 21 de dezembro foi longa e, na manhã seguinte, uma operação difusa pela unidade mudou tudo.

Genoino fez um apelo a Professor Luizinho para que ele se retirasse do processo, pois uma derrota poderia inviabilizar sua permanência na liderança do governo. Semelhante apelo também foi feito pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que apoiava Virgílio. Os dois lados supunham que sem Luizinho estava aberto o caminho, na reunião do Campo Majoritário, para a vitória de Virgílio, para uns, e de Chinaglia, para outros. Deu Greenhalgh, que seduziu os petistas prometendo dar mais espaço aos excluídos do poder no Legislativo e assumindo um discurso de independência em relação ao Executivo. Genoino entrou em cena novamente para pedir que todos apoiassem Greenhalgh. Não lhe restava outro caminho que não o do bom senso. Ele fizera as contas. Greenhalgh tinha 20 votos no Campo Majoritária, herdaria parte dos votos de Chinaglia e mais 23 da esquerda, eleitores de Walter Pinheiro (BA) na primeira votação na bancada.

O PSDB está preparando manifestações no dia 13 de fevereiro. Quer marcar a passagem de um ano do escândalo envolvendo o ex-assessor da Casa Civil, Valdomiro Diniz.

Oposição, sangue e realismo

Durante dois anos os tucanos venderam ao país a imagem de que faziam oposição responsável ao governo Lula. Seus líderes afirmaram que com essa postura conduziriam o país a um novo patamar civilizatório. Agora, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que está tudo errado e reclama que ¿o PSDB não tem gosto de sangue na boca¿. Será que os tucanos vão adotar a tática do quanto pior melhor?

O líder em exercício do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), diz que não. Afirma que os tucanos continuarão a agir com realismo e dureza para desnudar o governo Lula. Diz que não é da natureza do PSDB fazer uma oposição sanguinária, mas reconhece que o partido tem sido politicamente correto em demasia.

¿ Vamos continuar fazendo uma oposição séria, dissecar os programas do governo. Estamos preocupados com as indicações políticas para as agências ¿ diz Goldman.

O Bolsa Família também está na mira. Os petistas são acusados de substituir a contrapartida educacional pela político-eleitoral.

Ordem unida

Para evitar surpresas desagradáveis nas eleições para a presidência da Câmara, o vice-presidente José Alencar conversa amanhã com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), o líder, Sandro Mabel (GP) e o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Alencar quer o PL votando em peso em Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e que o vice-líder do governo no Congresso, deputado João Leão (PL-BA), seja enquadrado.

Contrapartida

Na presença de 20 deputados da bancada do Ceará, na sexta-feira, o governador Lúcio Alcântara (PSDB) defendeu o apoio do partido à candidatura do PT à presidência da Câmara. O governador disse que era importante que a política tivesse regras e que elas fossem seguidas por todas. Em seguida, cobrou que o PT cearense tivesse a mesma postura na disputa pelo comando da Assembléia Legislativa. Touché!

INTRIGA petista. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), foi alertado por um correligionário: ¿como o João Paulo (presidente da Câmara) não vai para a Coordenação Política, ele pode querer o seu lugar¿.

O SENADOR Marco Maciel (PFL-PE) vai se integrar aos debates da Comissão Especial encarregada de rever o uso das Medidas Provisórias. Com a experiência de quem foi vice-presidente durante oito anos, está convencido de que o Congresso precisa examinar com rigor a urgência e a relevância de cada proposta.