Título: Chance ao país
Autor:
Fonte: O Globo, 17/01/2005, Opinião, p. 6

Recentemente, a revista ¿Time¿ publicou um artigo com o ranking das 100 melhores universidades do mundo. Pela primeira vez constam 10 universidades asiáticas da listagem, antes restrita a universidades americanas e européias. A administração dos governos da Ásia mostra-se determinada a apoiar a educação em todos os níveis, derrubando barreiras regionais de linguagem (dialetos), étnicas, desigualdades sociais etc.

Ocupando a 23 posição no quadro da produção científica mundial, o Brasil poderia facilmente, com alguns ajustes na estrutura de financiamento das agências de fomento à pesquisa, tornar-se também um celeiro de produção de patentes, com as universidades mantendo uma forte e saudável interação tecnológica com a sociedade produtiva.

O papel da educação neste processo ninguém questiona e, para atingir esta meta, devemos investir na melhoria do ensino fundamental e médio, além de criar mais vagas nas universidades públicas, principalmente criando e ampliando os cursos noturnos.

Entretanto, dentro do nosso oceano de desigualdades sociais, estamos conscientes e respaldados por dados técnicos que o Brasil não pode e não deve esperar mais 500 anos para ampliar o acesso aos negros e carentes aos cursos universitários de alta qualidade de sua livre escolha. O governo do Estado do Rio foi pioneiro na introdução do sistema de cotas em suas universidades (Uerj e Uenf), e mantém hoje 4.600 estudantes matriculados nessas instituições. E nenhum conflito racial ou social foi observado entre estudantes, funcionários e professores nos dois anos de vigência do sistema.

Em dezembro realizou-se o I Seminário de Cotas do Governo do Estado, no Museu da República, a Casa de Getúlio Vargas, o presidente que sempre acreditou num país melhor para todos os brasileiros. No evento, dados fornecidos pelas sub-reitorias de ensino da Uerj e da Uenf revelaram que os índices de freqüência às aulas, inscrição em disciplinas e aproveitamento escolar não foram discrepantes entre alunos cotistas e não-cotistas, sendo que em um número representativo de casos foi igual e até mesmo, em alguns cursos, com vantagem para os alunos cotistas. Confirmando o que muitos de nós, defensores desse sistema, já sabíamos: que este instrumento de inclusão social não diminui a qualidade do ensino. Os cotistas da Uerj e da Uenf ganham assim a oportunidade de ingressar nos altos escalões das empresas; e o Brasil, na classe dos países prósperos e com igualdade social.