Título: R$ 143 bi em dinheiro de plástico
Autor: Luciana Rodrigues e Mirelle de França
Fonte: O Globo, 17/01/2005, Economia, p. 15

O dinheiro, esse vil metal, está caindo em desuso. Não freqüenta mais, com tanta intensidade, os bolsos e carteiras dos brasileiros. Notas e moedas estão saindo de cena e deram lugar a senhas e tarjas magnéticas de cartões de crédito, débito, serviços ou fidelidade. Em 2004, o dinheiro de plástico superou a marca dos 50 milhões só na sua versão crédito e, somando todos os tipos de cartões, foram R$ 143 bilhões movimentados, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs).

No fim de 1999, eram 23,6 milhões de cartões de crédito em circulação, o que significa que o número mais do que dobrou em cinco anos. Apenas em 2004, a expansão foi de 47% nos cartões de débito e de 25% nos de crédito. O meio magnético já responde por quase 15% das formas de pagamento do país. Nas nações ricas, em média, cerca de 30% das compras e pagamentos são feitas via cartão.

¿ Mas é preciso levar em conta que boa parte da população brasileira não tem conta bancária ¿ ressalta Jair Scalco, presidente da Abecs e diretor de Cartões e Negócios Eletrônicos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Analista alerta para taxas de juros altas

O publicitário Fábio Costa não vive sem seus cartões: três de crédito e um de débito. Ele prefere o sistema por questões de segurança e porque o dinheiro de plástico permite maior controle sobre o orçamento mensal:

¿ Uso diariamente. Para pequenos gastos, o de débito. E para grandes compras, os de crédito. Aposentei o cheque há muito tempo e ando, no máximo, com R$ 50 na carteira.

Para consumidores como Fábio, o cartão é mesmo um excelente meio de pagamento, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, presidente da Anefac, a associação que reúne os executivos de finanças do país. Ele ressalta, porém, que é preciso ser organizado:

¿ O cartão é uma boa ferramenta de crédito, mas não se pode gastar mais do que o salário permite, porque se o cliente entrar no rotativo, paga juros de mais de 10% ao mês.

No caso do cartão de débito, Oliveira não vê riscos, porque a compra só é concretizada se houver dinheiro na conta bancária.

Segundo Scalco, o aumento do uso de cartões é um bom negócio para os bancos. Ele a afirma que a agilidade na transferência dos recursos é a maior vantagem. Não é à toa que as tarifas para o uso dos meios magnéticos e eletrônicos, sobretudo a internet, são mais baixas.

O presidente da American Express no Brasil, Hélio Magalhães, comemora o crescimento de 25% no total movimentado pelos clientes e o aumento de 10% no número de cartões registrados em 2004, em relação ao ano anterior.

¿ O crescimento é resultado da nossa estratégia, mas também do desempenho da economia brasileira em 2004, que ultrapassou todas as expectativas ¿ afirma Magalhães.

Já o vice-presidente de Produtos da Visa do Brasil, Eduardo Chedid, diz que o volume financeiro das transações teve alta de 30% e saltou a R$ 72 bilhões. As transações de débito subiram 53% e as de crédito, 20%.

¿ A ampliação da rede de estabelecimentos credenciados ajudou. Mas a queda do desemprego e o aumento da confiança do consumidor foram fundamentais ¿ ressalta o executivo da Visa, que até novembro de 2004 somava 112 milhões de cartões (alta de 27% sobre 2003).

Os postos de gasolina também aderiram aos cartões. A BR Distribuidora lançou em julho de 2004 o Cartão Petrobras, em parceria com a financeira Losango. O produto permite comprar combustível e artigos na lojas de conveniência com até 40 dias para pagar. O diretor da Rede de Postos e Serviços da BR, Reinaldo Belotti, afirma que a meta é atingir 6 milhões de unidades em três anos.

Total de cheques cai de 3 bi para 1,9 bi

Apesar do avanço dos cartões, a quantidade de papel moeda em circulação não sofreu redução. Em novembro passado, R$ 42,4 bilhões circulavam pelas mãos dos brasileiros, sem contar outros R$ 72,4 bilhões em depósitos à vista nos bancos.

¿ Acompanhamos a evolução (do dinheiro em circulação no país) e continua crescendo. Muitos outros fatores influem ¿ diz Cláudio Lagoeiro, chefe-substituto do Departamento de Meio Circulante do Banco Central.

A popularização dos cartões roubou espaço dos cheques. Em 2004, segundo dados do Banco do Brasil, foram trocados 1,92 bilhão de cheques, contra 2,25 bilhões no ano anterior. Só para se ter uma idéia, em 1997, foram quase 3 bilhões.