Título: Palocci acena com nova alta da taxa de juros
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 17/01/2005, Economia, p. 17

Endossando as previsões dos analistas, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, acenou com novo aumento da taxa básica de juros (Selic) neste início de ano, para manter a inflação sob controle. A decisão será anunciada quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Em entrevista ao programa ¿Canal Livre¿, exibido ontem à noite pela TV Bandeirantes, Palocci afirmou que o BC continua preocupado com a trajetória futura dos preços.

¿ Por não fazer parte do Copom, tenho o privilégio de não responder a essa pergunta (sobre o resultado da reunião). As indicações das últimas atas mostram que o BC continua preocupado com a inflação. Não uma inflação que ameace o processo (de estabilidade macroeconômica), mas de uma pressão que precisa ser controlada.

O ministro disse que as críticas à política monetária são naturais, mas insistiu que o governo não vai abrir mão do atual caminho. Para analistas de bancos, a Taxa Selic passará dos atuais 17,75% para até 18,25% ao ano.

¿ O fato é que as pessoas têm dificuldades de entender que a política de juros é o melhor mecanismo para controlar a inflação. É um sistema duro, mas o melhor disponível.

`Vejo com serenidade a preocupação de Furlan¿

Palocci voltou a rechaçar a possibilidade de intervenções mais agudas do BC para impedir que o dólar continue a se desvalorizar frente ao real. A medida é defendida por exportadores e pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que na semana passada fez um ataque aberto à equipe econômica.

Adotando tom conciliador em relação às críticas de Furlan ¿ ¿vejo com serenidade a preocupação do ministro¿ ¿ Palocci disse que a valorização do real é resultado da estabilidade da economia e também de um desequilíbrio momentâneo do valor das principais moedas, puxado pelo déficit americano.

¿ O câmbio flexível já prestou serviço excepcional para o país. Não podemos agora ficar desesperados, vamos ser serenos ¿ disse, acrescentando que o intervencionismo e a prática heterodoxa de governos anteriores custaram caro ao crescimento do país.

Palocci contou ter conversado com o presidente Lula sobre as críticas de Furlan. Segundo ele, ao ser perguntado se queria mudar a postura do BC em relação ao câmbio, Lula teria sido enfático.

¿ Absolutamente não, foi a resposta dele ¿ disse Palocci.

Lei de Responsabilidade Fiscal não terá alterações

A entrevista foi gravada em São Paulo na sexta-feira passada. Palocci manteve o bom-humor mesmo nos momentos em que foi pressionado a responder sobre aumento de impostos e críticas a seu trabalho até por integrantes do PT. Para ele, as críticas têm o mérito de ¿ser de boa-fé¿. No final, deu um recado a governadores e prefeitos que insistem em mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal: o governo não vai afrouxar as regras.

¿ O país superou dificuldades porque teve firme compromisso fiscal. Podemos ajudar? Podemos. Mas afrouxar (as regras), de forma alguma