Título: Senegal faz críticas, mas apóia Lula
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 17/01/2005, Economia, p. 17
Uma série de coincidências e mal-entendidos marcaram, neste fim de semana, o início de uma promissora relação comercial e política entre Brasil e Senegal. O presidente senegalês, Abdoulaye Wade, recebeu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dizendo que está interessado em participar do projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prevê articulação entre os países do Hemisfério Sul. Mas lamentou ter se frustrado algumas vezes ao enviar missões ao Brasil e não receber qualquer proposta de negócios.
¿ Sinto-me como uma noiva com um buquê em busca de um casamento ¿ ilustrou Wade.
Wade transmitiu a Amorim um convite para que Lula visite Senegal quando deixar Davos, na Suíça, onde será realizado o Fórum Econômico Mundial, este mês. O presidente do Senegal enfatizou que há muito o que conversar, especialmente sobre comércio, praticamente inexistente entre Brasil e África.
¿ O comércio Norte-Norte é intenso, Norte-Sul é regular, mas é muito pequeno entre Sul-Sul ¿ afirmou Wade.
Após dois dias de reuniões entre autoridades e empresários dos dois países, ficou decidido que o Senegal está pronto para receber investimentos na área de infra-estrutura e quer conhecer melhor a Embraer, para a futura compra de aeronaves. A série de encontros terminou ontem com o chanceler do Senegal, Cheikh Gadio, chamando Lula de o primeiro presidente negro do Brasil.
¿ Lula é o primeiro presidente negro do Brasil devido a seu interesse pela África, para nós uma novidade. O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton também era chamado assim ¿ disse Gadio.
Do ponto de vista de política externa, o Senegal pode ser um importante parceiro na rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), pela posição de liderança entre os países da África Ocidental.