Título: Bancos alteram o perfil dos fundos para o investidor pagar menos IR
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 17/01/2005, Economia, p. 18
O investidor deve ficar atento: os fundos de investimento estão mudando de perfil para atender às mudanças de tributação que entraram em vigor no dia 1 de janeiro. E isso pode significar um pouco mais de risco à aplicação. Pelas nova regras, quanto maior o prazo do investimento, menor a alíquota do Imposto de Renda (IR). Quanto menor o tempo da aplicação, maior o IR a pagar. De olho nisso, grandes bancos mexeram na carteira dos seus fundos. Os títulos, antes com vencimento a curto prazo, em até 365 dias, agora terão, em sua maioria, vencimento médio superior a 12 meses. A escolha entre curto e longo prazo deve ser feita pelos bancos até o fim do mês.
As mudanças acontecem porque, para pagar menos imposto ¿ as alíquotas variam de 22,5% a 15%, conforme o prazo do investimento ¿ o investidor terá que adequar o prazo em que o dinheiro ficará aplicado com o perfil dos fundos, que foram divididos entre curto e longo prazo. Os de longo prazo pagarão IR de, no mínimo, 15% (antes, todos os fundos eram tributados em 20%) e os de curto de, no máximo, 22,5%.
Bradesco já modificou430 dos 590 fundos
Dos 590 fundos do Bradesco, 430 já foram enquadrados. Os títulos que integram as carteiras dos fundos DI, Renda Fixa, cambiais e multimercado, antes com vencimento em, na média, 330 dias, hoje têm prazo médio de 540 dias, segundo o diretor-executivo Sérgio de Oliveira:
¿ Entendemos que esta é a opção que traz mais vantagem para o investidor, pois ele poderá pagar menos IR.
Os fundos de curto prazo ficarão restritos a 30, voltados para aplicadores conservadores, uma parcela pequena dos dois milhões de cotistas. O Citibank ainda não alterou o perfil dos seus 150 fundos, mas vai sugerir aos investidores o alongamento da carteira para os renda fixa, multimercado e para produtos atrelados a índices de preços:
¿ Esses fundos já tinham alguma volatilidade, por terem um perfil um pouco mais arriscado. Por isso, o prazo mais longo não deve causar uma mudança brusca no perfil de risco. Já os fundos DI devem continuar com títulos de mais curto prazo, porque atraem investidores com horizonte de aplicação inferior a um ano ¿ explica Paulo Caricatti, superintendente de Renda Fixa do Citigroup Asset.
Márcio Appel, superintendente do Santander Banespa Asset Management, diz que desde 2002 os fundos DI e Renda Fixa já tinham carteira de longo prazo. Somente os multimercado e cambiais sofreram modificações: investirão em títulos de mais longo prazo.
¿ A decisão de investimento ficou mais dura. Devem manter apenas a curto prazo o dinheiro que será usado daqui a pouco tempo, já que os recursos sofrerão uma tributação maior ¿ avalia Appel.
Nas próximas semanas, o HSBC vai propor aos cotistas a alteração das carteiras de boa parte dos seus 420 fundos de curto para longo prazo. Somente os fundos de curto prazo já existentes manterão este perfil. Fernando Meibak, diretor-superintendente do HSBC Asset Management, diz que o risco maior da aplicação a longo prazo será diminuído por meio do investimento em CDBs de bancos de primeira linha.
Caixa vai detalhar o prazo no nome do fundo
O Itaú também optou pela carteira mais longa.
¿ Queremos dar ao nosso cliente a possibilidade de investir pagando menos IR ¿ diz Alexandre Zákia, diretor de Produtos de Investimento do Itaú.
Na Caixa Econômica, do total de 70 fundos, 20 ¿ entre Renda Fixa, DI e multimercado ¿ tiveram sua carteira alterada de curto para longo prazo. Para auxiliar os investidores, vão acrescentar longo e curto prazos no nome do fundo.
Marcelo Bonini, diretor de Ativos de Terceiros da Caixa, diz que embora títulos mais longos costumem ser mais arriscados, o que traz mais oscilações às carteiras, a volatilidade adicional deve ser diluída a longo prazo:
¿ Mas é preciso cautela e informação. Nem todo fundo de longo prazo é igual: um com títulos com vencimento médio em 370 dias tem um risco bem menor que outro com vencimento médio em 500 dias. Essa é uma informação que o investidor deve cobrar do seu gestor. Saber o perfil da carteira é uma das regras básicas para se investir e essas não mudaram com a nova tributação, pelo contrário: ficaram ainda mais importantes.
O economista Marcelo D¿Agosto, lista em seu livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿ as regras de ouro da boa aplicação:
¿ Vão desde definir o objetivo da aplicação até verificar os impostos e as taxas cobrados e ler com cautela o regulamento do fundo. Mas uma boa dica para evitar dor-de-cabeça é pedir ao gestor um gráfico com o histórico do fundo, que dá uma idéia clara do risco da aplicação. E é bom ter em mente que os três objetivos ideais para os investidores são difíceis de conciliar: maior rentabilidade pelo menor risco e com o melhor atendimento. Saber disso pode evitar frustrações futuras.