Título: Vai que é tua, PT
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 18/01/2005, Panorama Político, p. 2
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem, na reunião da coordenação de governo, que o Executivo não vai se envolver na disputa pela presidência da Câmara. Lula não quer que o governo pague a conta dos desacertos internos do PT. E, segundo assessores, reclama que a escolha do candidato foi mal conduzida na bancada e, também, mal costurada com os partidos aliados.
Foi o vice-presidente, José Alencar, quem tocou no assunto, dizendo o quanto era constrangedor para ele ficar contra a candidatura do deputado mineiro Virgílio Guimarães (PT). O presidente Lula afirmou, então, que este não era assunto do Executivo, que não colocaria em seu colo qualquer candidatura e que cabia-lhe unicamente, e a José Alencar também, respeitar as regras de convivência parlamentar e a decisão do PT.
¿ Eu e você não temos candidato. O candidato é da bancada da PT, não do Palácio ¿ disse Lula.
O presidente apóia o candidato oficial, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), mas já havia dito a este que ele deveria gastar a sola do sapato para se viabilizar. Agora, na coordenação, Lula mandou um recado para o PT: cabe ao partido resolver os problemas criados pela candidatura Virgílio Guimarães. E considera que é responsabilidade do presidente do PT, José Genoino, preservar a disciplina partidária. Desta vez, a vítima não será um aliado, como o deputado Inácio Arruda (PCdoB-CE), o governador Luiz Henrique (PMDB-SC) ou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Desta vez, a carnificina será entre petistas. E os líderes aliados já manifestaram constrangimento de entrarem numa guerra como aquele soldado que ignora pelo que está lutando.
A postura assumida pelo presidente Lula indica ainda que o Executivo não usará seus instrumentos de ação política ¿ liberação de emendas e preenchimento de cargos ¿ para resolver a divergência interna dos petistas. A conduta, neste caso, será a mesma adotada pelo governo na votação da emenda da reeleição para as presidências da Câmara e do Senado. Os interessados que se virem.
O entendimento na coordenação é que o governo deve concentrar seus esforços na governabilidade e na aprovação das leis de interesse do Executivo. A experiência indica que os governos pagam preço muito alto quando tentam administrar brigas na base aliada.O chefe da Casa Civil, José Dirceu, está na comitiva que vai a Davos, no Fórum Econômico Mundial, com o presidente Lula. No dia 29 fará palestra para investidores estrangeiros.