Título: Emprego pára de crescer na indústria
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 18/01/2005, Economia, p. 19

O emprego na indústria brasileira ficou estagnado em novembro, frente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal, depois de ter recuado 0,2% em outubro, informou ontem o IBGE. Mas o fraco desempenho em novembro não afetou os resultados de 2004: no acumulado do ano, o emprego industrial cresceu 1,7% e, em 12 meses, a alta é de 1,4%. E, em relação a novembro de 2003, o número também é positivo: aumento de 4,2%. Nessa mesma comparação, o salário real na indústria cresceu 2,6%. Mas, frente a outubro, a renda do trabalhador recuou 1%.

¿ O resultado nulo (do emprego) frente a outubro não deve ser visto de forma negativa. O mercado de trabalho é um reflexo da produção industrial que, depois de ter crescido muito ao longo do ano, sofreu uma certa acomodação ¿ explicou a economista Denise Cordovil, da Coordenação de Indústria do IBGE.

Emprego no Rio teve alta de 0,1%, a primeira desde 2001

Em novembro, como o IBGE informou há duas semanas, a produção industrial teve queda de 0,4% frente a outubro. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), destacou, em relatório divulgado ontem, que o freio na produção começou desde setembro, interrompendo um ciclo de expansão da indústria iniciado em maio. Como conseqüência, diz o Iedi, o emprego industrial perdeu fôlego a partir de outubro.

No emprego, os setores com melhor desempenho em novembro foram alimentos e bebidas, com alta de 6,6% no número de trabalhadores frente a novembro de 2003; máquinas e equipamentos, com aumento de 14,4%, e meios de transporte, com expansão de 14,8%. São segmentos ligados à agroindústria e à produção de bens de capital (máquinas para ampliar a capacidade), nos quais o avanço da produção industrial começou há mais tempo.

Nos setores mais dependentes da recuperação da renda dos brasileiros, e que só nos últimos meses conseguiram aumentar sua produção, o desempenho do mercado de trabalho foi pior. Em calçados e couro, o emprego caiu 1,8%.

O avanço do emprego em novembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado, foi generalizado pelas diferentes regiões do país. Dos 14 locais pesquisados pelo IBGE, 13 tiveram avanço. A única exceção foi o Rio Grande do Sul, com queda de 0,7%, puxada pelo fraco desempenho do setor de calçados e couro, que no estado teve redução de 8,1% no emprego.

Até mesmo o Rio de Janeiro, que vinha apresentando números negativos desde dezembro de 2001, quando o IBGE iniciou essa modalidade de pesquisa, obteve uma ligeira melhora no emprego industrial, com alta de 0,1%. Os setores que lideraram a expansão no Rio foram meios de transporte (19%), minerais não-metálicos (18%) e máquinas e equipamentos (11,4%).

Os outros indicadores do mercado de trabalho na indústria apresentaram desempenho positivo em novembro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O número de horas pagas aos trabalhadores cresceu 4,6%, a jornada média teve expansão de 0,4% e a folha de pagamentos subiu 6,9%.

Segundo Denise Cordovil, do IBGE, a ampliação da folha de pagamentos total, assim como a alta de 2,6% no salário médio real (descontada a inflação), refletem o maior poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais e o aumento na distribuição de participações nos lucros por parte das empresas.

¿ Isso é conseqüência do dinamismo da produção industrial verificada ao longo de 2004. Também ajudou no aumento no poder de compra do trabalhador o fato de a inflação no ano passado ter ficado abaixo da registrada em 2003 ¿ disse a técnica do IBGE.

Indústria mostra ganhos de produtividade, diz Bradesco

O aumento dos salários na indústria pode não exercer grandes pressões na inflação daqui para frente, na avaliação do economista Octavio de Barros, do Bradesco. Há um temor, entre os analistas, de que a recomposição da renda dos brasileiros crie espaço para reajustes de preços. Amanhã, o Banco Central decide a nova taxa básica de juros da economia, usada, justamente, para controlar a inflação. Para Barros, os ganhos de produtividade da indústria brasileira podem aliviar as pressões sobre a inflação.

O economista do Bradesco comparou a evolução da produção com o avanço no número de horas pagas aos trabalhadores do setor. E constatou que o crescimento da produção foi superior ao das horas trabalhadas, o que indica que o setor industrial tornou-se mais produtivo. Segundo Barros, o que pressiona a inflação são reajustes salariais superiores aos ganhos de produtividade da economia.