Título: Amnon Cohen: `A ameaça de guerra civil está lá¿
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Fonte: O Globo, 18/01/2005, O Mundo, p. 23

Apesar do corte de relações um dia antes da posse de Mahmoud Abbas, Amnon Cohen, ex-diretor do Truman Research Institute for the Advancement of Peace e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, acredita que Ariel Sharon está determinado a negociar com o novo líder palestino. Ele disse que Abbas está no caminho certo para retomar as negociações de paz, mas não descarta a ameaça de uma guerra civil entre palestinos.

Sharon está realmente determinado a negociar com Mahmoud Abbas?

AMNON COHEN: Sim. Não é correto dizer que ele está boicotando Abbas. Ele disse, antes de Abbas ser eleito, que estava disposto a negociar. Depois, telefonou para congratular-se com ele pela eleição. São sinais positivos. O que disse agora é que não começará a negociar até ver alguma medida prática de Abbas. Sharon espera, e eu também, que Abbas, diferentemente de Arafat, aja contra elementos destrutivos do Hamas, da Jihad Islâmica... Abbas disse que o fará e assim espero.

O fato de Sharon cortar relações um dia antes da posse de Abbas não é um mau sinal?

COHEN: Não. Não se pode dizer que cortou relações porque não havia relações a serem cortadas. Não havia discussões em andamento. Abbas, em seu discurso de posse, disse que vai seguir adiante com o Mapa da Paz. O plano diz que se os palestinos querem mesmo deter a violência, a idéia não é só falar, mas fazer algo. Os palestinos sabem exatamente quem são os terroristas e onde estão. Sharon quer indícios de que falam com seriedade. Também é preciso levar em conta o problema de Sharon com a opinião pública. Ele disse em hebraico: ¿Quero me sentar com esse sujeito e chegar a um caminho.¿ Ao mesmo tempo, seis corpos eram enterrados. Ele tem que pensar na opinião pública israelense.

As forças de segurança palestinas têm condições de deter os grupos armados?

COHEN: Acho que Sharon está fazendo a mesma pergunta ao ministro da Defesa israelense. Não sabemos ainda. A diferença é que no passado, com Arafat, não houve uma tentativa de frear os ataques, de pôr ordem nas forças de segurança. Abbas disse que ordenou deter os ataques. É um bom sinal. Ele caminha para abrir uma nova página, um novo capítulo nas relações entre israelenses e palestinos. Não sabemos se as forças palestinas podem deter os grupos. Esperamos que sim. Em Gaza, está (Mohammed) Dahlan. Ele foi chefe da segurança e no último ano de vida de Arafat, não cooperou com ele. Agora quer agir com Abbas. Ele não tem que atacar todos os membros do Hamas ou da Jihad Islâmica, mas pode entregar aqueles que participaram de atos de violência não a Israel, mas a Abbas.

Mas agir contra os grupos armados não pode deflagrar uma guerra civil?

COHEN: Essa pergunta está sempre no ar. Antes de Abbas ser eleito, ele foi a Gaza e um palestino começou a atirar. Não se sabe se atirava em Abbas ou para o alto. Mas a idéia era intimidá-lo. A ameaça de guerra civil está lá, mas Abbas tem o poder, agora tem a autoridade. Mas tem que agir com sabedoria.