Título: Abbas endurece com radicais
Autor:
Fonte: O Globo, 18/01/2005, O Mundo, p. 23

Pressionado por Israel, o novo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ordenou ontem o deslocamento maciço das forças de segurança para as passagens na fronteira da Faixa de Gaza, para deter qualquer ataque de grupos extremistas que desafiarem seu apelo por um cessar-fogo. Abbas determinou ainda que seja investigado um ataque que matou seis israelenses na quinta-feira e que Israel afirma ter contado com a participação de policiais palestinos.

Mas num indício de que os problemas de Abbas estão apenas começando, grupos como o Hamas descartaram uma trégua antes do fim da ocupação israelense e advertiram que a medida pode deflagrar confrontos entre seus integrantes e as forças palestinas. O governo israelense, por sua vez, declarou que a medida é ¿um pequeno passo na direção certa¿, mas que Abbas precisa deter rapidamente os ataques com foguetes que partem de Gaza se quiser retomar as relações, cortadas na sexta-feira.

¿ Abu Mazen e o Gabinete deram instruções claras aos chefes de segurança para deterem todo tipo de violência, incluindo ataques contra Israel ¿ disse o ministro de Gabinete palestino, Qadoura Fares, referindo-se a Abbas.

Qorei ameaça punir quem violar cessar-fogo

Membros do governo palestino informaram que não haverá diferenciação entre ataques às tropas israelenses ou colonos judeus. Segundo o primeiro-ministro Ahmed Qorei, quem violar o cessar-fogo será punido. Os grupos extremistas, no entanto, não parecem se intimidar.

¿ Consideramos a resistência como uma linha vermelha, e ninguém está autorizado a ultrapassar esta linha ¿ disse o porta-voz do Hamas, Mushir al-Masri.

O uso das forças de segurança contra extremistas sempre foi um obstáculo nas negociações de paz. Em 2003, quando Abbas era premier, Israel e os EUA o pressionaram a convencer as facções palestinas a se desarmarem. Mas Yasser Arafat, presidente da ANP na época, resistiu a entregar o controle da segurança a Abbas.

A breve esperança de paz surgida com a eleição de Abbas, este mês, começou a se desvanecer na quinta-feira, quando um ataque na passagem de Karni ¿ reivindicado por três grupos, entre eles o Hamas e as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa ¿ matou seis civis. No dia seguinte, Sharon cortou os contatos com os palestinos, e no domingo, um dia após a posse de Abbas, determinou que o Exército usasse de todos os meios para deter os ataques terroristas.

Analistas árabes acreditam que Israel possa estar boicotando Abbas, tentando transformá-lo num novo Arafat, que foi afastado das negociações pelos governos israelense e americano. Para o novo presidente da ANP, a decisão de Sharon foi ¿apressada e errada¿.

¿ Os problemas não são resolvidos cortando contatos, mas através deles ¿ disse Abbas, que viaja hoje à Faixa de Gaza para tentar levar os grupos armados a uma trégua, e assim trazer Israel à mesa de negociações.

Apesar de prometer agir contra extremistas, ele esbarra nas condições de suas forças de segurança, debilitadas por ataques israelenses em quatro anos de violência. Além disso, alguns de seus membros têm relações com as facções.

¿ Isso não vai resolver o problema mas pode criar outro entre os palestinos ¿ disse Nafez Azzam, um dos líderes da Jihad Islâmica.

Ontem, tropas israelenses mataram dois atiradores da Jihad Islâmica que atacavam carros na estrada entre Israel e um assentamento judaico em Gaza. No Líbano, o Hezbollah, que apóia militantes palestinos, explodiu uma bomba perto de uma escavadeira mecânica israelense numa área de fronteira. Israel revidou com um ataque aéreo que feriu duas mulheres.