Título: APERTO GERENCIAL
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Fonte: O Globo, 15/01/2005, Panorama Político, p. 2

A gestão é a prioridade do governo Lula para este ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera que não há mais desculpas para que as coisas não aconteçam e vai exigir cada vez mais resultados de seus ministros. Nesta nova fase, o presidente quer um governo realizador e, por isso, se apoiará ainda mais no chefe da Casa Civil, José Dirceu, para fazer a máquina administrativa andar.

Os assessores próximos do presidente dizem que a gestão virou uma obsessão para o presidente Lula. Ao ponto dele ficar irritado com vários de seus ministros, nos últimos meses de 2004, quando estes lhe comunicaram que estavam com problemas para executar todo o orçamento de suas pastas. O fato é que a lei orçamentária previa R$14,8 bilhões de investimentos em 2004. Desse total foi autorizado o gasto de R$10,6 bilhões e pago efetivamente R$5,3 bilhões, além da liberação de outros R$3,7 bilhões de restos a pagar do exercício de 2003.

O presidente não se conforma com este desempenho, embora reconheça os entraves burocráticos e as limitações financeiras do país. E, por isso, vai chamar para si o acompanhamento da execução do Orçamento. Neste novo desenho também tende a ser forte o Ministério do Planejamento, sobretudo se houver sintonia com o presidente.

Esta flexão na atitude do presidente Lula foi tratada em reuniões da coordenação e tem um fundamento político. O governo precisa mostrar excelência em outras áreas, sobretudo na social, além da gestão econômica. Como disse um assessor do presidente, ¿não dá para ancorar a avaliação do governo só na macroeconomia¿, pois a economia está sendo bem conduzida mas ainda exibe vulnerabilidades diante de uma crise internacional, sobre a qual o país não tem controle.

Este mesmo dilema viveu o governo Fernando Henrique, sobre o qual se dizia ser um samba de uma nota só, devido à vinculação de sua imagem à estabilidade econômica. Só depois que esta ruiu, em janeiro de 1999, com a desvalorização do real diante do dólar, foi que se ergueu a bandeira da ¿Rede de Proteção Social¿.

Nos dois primeiros anos de governo, o presidente Lula fez muitas viagens internacionais para vender o país para investidores externos. Agora, quando se prepara para disputar a reeleição em 2006, o presidente Lula quer dar um aperto na máquina petista antes de sair vendendo seu governo aos eleitores.