Título: Um caso de marketing
Autor: JOSÉ AGRIPINO MAIA
Fonte: O Globo, 15/01/2005, Opinião, p. 7

Aexpansão da economia e a geração de empregos dominam o noticiário. É quase uma aclamação ao governo. Parece que há trabalho para todo mundo, que o Produto Interno Bruto está crescendo como nunca; que os juros estão em um por cento ao ano; que os impostos de repente caíram e que ninguém mais segura este país.

Que bom se fosse assim. Mas não é, não.

Com uma carga tributária beirando os quarenta por cento do PIB e com as taxas de juros mais altas do planeta, não há investimento continuado, nem crescimento sustentado. O que existe, sim ¿- e queria estar errado ¿ é um mercado mundial comprador, alta nos preços das nossas commodities e uma política de câmbio favorável às exportações.

Mas para o governo está tudo azul. E tome-lhe marketing!

A última do marketing é a história da Polícia Federal republicana. Vamos aos fatos:

Em outubro passado, um grupo de agentes do Rio de Janeiro invadiu uma rinha de briga de galos, prendendo o publicitário Duda Mendonça e um vereador recém-eleito pelo PT. O marketeiro Duda não hesitou em telefonar para o ministro da Justiça, protestando. O protesto não surtiu efeito, mas mostrou intimidade com o poder. Fiança paga, os presos foram libertados. Mas o fato ficou. E a rinha foi fechada. E o dolo foi mostrado. Ponto para a Polícia Federal.

Só que um mês depois de o ministro da Justiça ter declarado que ¿a Polícia Federal deste governo é republicana, doa em quem doer¿, os dois agentes, Luiz Amado e Marcelo Guimarães, integrantes da operação, foram, sem aviso e sem explicação, transferidos para o interior do Rio de Janeiro. E agora por último, o delegado Antônio Carlos Rayol foi afastado. Então, terminou doendo neles? Teriam contrariado interesses de Estado? Cadê a Polícia republicana?

A última, neste viés.

A mesma Polícia Federal, igualmente por iniciativa própria e investigando suspeita de corrupção, presente em concorrência para prestação de serviços ao Tribunal de Contas da União, prendeu, entre outros, gerente da empresa Confederal, de propriedade do ministro das Comunicações.

A primeira reação do governo partiu do seu líder na Câmara dos Deputados: ¿A Polícia Federal está querendo fraturar as instituições; está agindo para desmoralizá-las¿, foi a declaração. Logo depois desdizia tudo, certamente para atender a razões de marketing determinadas pelo governo. Polícia Federal republicana? Nesses episódios, com certeza. Mas, estou seguro, não por determinação do governo.

Este governo é daqueles que pensam: ¿faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço¿. Tem ele credibilidade para dizer que a sua Polícia Federal é republicana enquanto faz tudo para impedir a CPI do Waldomiro? Ou pratica a conivência com o caso da ONG Ágora, dirigida pelo amigo do presidente, condenado a devolver dinheiro do Programa Primeiro Emprego? Ou ainda assiste impassível (até ser flagrado) ao Banco do Brasil comprar ingressos de show dito beneficente, para a construção da sede do PT?

Esses são os fatos. O resto é marketing.