Título: DÍVIDA: ARGENTINA DIZ QUE OFERECEU O POSSÍVEL
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Fonte: O Globo, 15/01/2005, Economia, p. 31

O secretário de Finanças da Argentina, Guillermo Nielsen, disse ontem que qualquer tentativa de melhora na oferta de troca da dívida apresentada aos credores na última quinta-feira traria instabilidade ao país. Após três anos em default (moratória), a Argentina quer trocar a dívida de US$102,6 bilhões por até US$41,8 bilhões em novos bônus.

A proposta argentina para sair da moratória provocou reações, especialmente do governo da Itália ¿ onde está concentrada a maior parte dos credores estrangeiros ¿ que chegou a usar a expressão ¿má-fé¿ para classificar a oferta argentina. Nielsen, no entanto, garantiu que não haverá mudanças.

¿ Esta é a melhor oferta sustentável. Qualquer alteração poderia ser insustentável ¿ disse o secretário em entrevista ao jornal ¿Il Sole 24 Ore¿, publicada na edição de ontem. ¿ Uma tentativa de melhorar a oferta nos levaria novamente à instabilidade por colocar mais dinheiro. Em dois ou três anos seríamos obrigados a reestruturar a dívida novamente. Não queremos voltar a declarar default.

Ele negou as acusações da Itália de que a Argentina não teria negociado de boa-fé com os credores e disse que rompeu as conversações com Nicola Stock, co-presidente do Comitê Global de Detentores de Bônus da Argentina, porque sua postura era muita rígida.

Prazo de adesão irá até o dia 25 de fevereiro

A troca de bônus argentinos ¿ considerada o maior refinanciamento de dívida da História ¿ começou com ontem com um índice de aceitação de 30%, assegurado pela adesão de grandes credores locais. O prazo para que os credores de todo o mundo aceitem ou não a proposta termina em 25 de fevereiro. Os analistas, no entanto, acreditam que as três primeiras semanas serão fundamentais para definir o sucesso da operação.

A gigantesca reestruturação, que também se destaca por uma forte redução do débito e prazo longo para pagamento, começou nos mercados de Argentina, Estados Unidos e Europa, que reúnem 90% dos bônus em default desde o fim de 2001. Por enquanto, o Japão permanece fora das negociações, já que o governo argentino não conseguiu ainda a aprovação das autoridades financeiras e tampouco um banco que atue como agente coordenador da operação.

Credores argentinos têm bom nível de adesão

Na Argentina, os primeiros a aceitarem a proposta foram os fundos de pensão locais. Eles são credores de US$15 bilhões, o que pressupõe um índice de adesão de 20%.

O presidente da Caixa de Valores da Argentina, Luis Corsiglia, assinalou que houve ainda a adesão de outros investidores, embora não tenha revelado o montante de troca de bônus que esses grupos representariam.

Agentes do mercado, no entanto, garantem que entre ontem e a próxima terça-feira o nível de aceitação alcançará 30%, pela participação da maioria das seguradoras, bancos locais e fundos comuns de investimento. Juntos, eles são credores de US$5,8 bilhões em bônus não pagos pelo governo argentino. A corrida dos credores locais tem uma explicação. Ela se deve ao plano de refinanciamento da dívida, que oferece melhores condições de troca para os grupos que aderirem primeiro.