Título: ONDA GRANDE
Autor:
Fonte: O Globo, 19/01/2005, Panorama Político, p. 2

Está em curso uma onda política, a disputa pela presidência da Câmara, que pode não virar uma tsunami destruidora mas mera marola já deixou de ser. Foi produzida lá atrás, pela imprudência com que o PT conduziu a escolha de seu indicado para o cargo que conquistou ao sair das urnas como o maior partido. Vacilou e agora corre riscos reais. Mais que o de perder o posto, o de ver sua base parlamentar fragmentada por uma guerra de grupos.

A onda cresceu ontem com os sinais de que a candidatura avulsa do petista Virgílio Guimarães é irreversível e com o lançamento de um quarto candidato, o pepista Severino Cavalcanti. Há ainda, contra a candidatura oficial de Luiz Eduardo Greenhalgh, a do pefelista José Carlos Aleluia. A insurgência contra a regra que reserva o cargo ao maior partido foi prevista e registrada, inclusive aqui, quando o PT embarcou num confuso processo interno de escolha, guiado pela luta de tendências e não pela necessidade de reconstruir sua maioria política em torno do escolhido. Para isso, teria que ter levado em conta o conjunto dos deputados-eleitores. Mas embora o PT se orgulhe tanto de sua democracia interna, de tudo decidir no voto, quando restaram três postulantes ¿ Virgílio, o que fora mais votado, Greenhalgh e Arlindo Chinaglia ¿ certo espírito pessedista levou o presidente do partido, José Genoino, a agir para evitar que os três batessem chapa, obtendo a renúncia de Virgílio e Chinaglia. Tivesse havido a disputa final, e Greenhalgh exibido a maioria de votos que já conquistara, Virgílio não teria, para se lançar, o argumento de que houve interferência na decisão.

Quem pode segurar a onda é o governo mesmo, mas não lavando as mãos nem adotando uma política de massacre contra o rebelde Virgílio, cuja candidatura empolga Minas, nutre-se da antipatia pelo predomínio dos paulistas (neste governo como no anterior) e tem apoios reais na massa parlamentar. Pois no ponto a que as coisas chegaram, importante para o governo não é uma vitória eleitoral, a simples eleição de Greenhalgh, mas a consolidação de sua maioria em torno dele. De nada lhe adiantaria elegê-lo com votos da oposição ou apelando para os chamados ¿recursos administrativos¿, tipo liberação de recursos e nomeações, se no dia seguinte não tiver a seu lado a necessária maioria. E isso acontecerá se a disputa pelos cargos da Mesa, não só pela presidência, transformar-se numa guerra entre grupos, muito além dos partidos e dos compromissos.

Não deve o governo partir para o esmagamento de um quadro importante como Virgílio, com muitos serviços prestados ao PT, mas tratar de queimar suas esperanças, agregando apoios ao candidato oficial. O primeiro passo foi obter, através do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, o apoio oficial do PL a Greenhalgh. Está em curso agora o mesmo trabalho junto aos outros partidos aliados.

Fácil não será. Ainda mais quando se trata de voto secreto. É ele o instrumento da vingança, esta força negativa mas tão importante na política.