Título: O BALANÇO DA VIOLÊNCIA
Autor:
Fonte: O Globo, 19/01/2005, Rio, p. 14

Estatística anual revela aumento de assaltos a transeuntes e redução no número de homicídios

Os assaltos a transeuntes aumentaram 24,4% comparando-se os dados dos anos de 2003 e 2004, publicados no Boletim de Monitoramento e Análise do Instituto de Segurança Pública (ISP). Foram 4.372 casos a mais em 2004 (22.256 ano passado, mais de 60 registros diários ou 2,5 casos por hora). Mas houve redução nos casos de homicídios dolosos, que caíram 2,8% em 2004. Mesmo assim, os números continuam elevados: foram 6.438 casos ano passado contra 6.624 em 2003. Os dados foram divulgados ontem e mostram que, dos dez tipos de crimes monitorados pelo ISP, outros dois tiveram aumento.

Um deles foi roubo em ônibus: 11,7%, com 543 casos a mais do que em 2003. Em 2004, foram registrados 5.196 casos. Outro aumento foi o de casos de latrocínio (roubo seguido de morte): mais 3,4%. Foram seis casos a mais que em 2003, quando houve 179 crimes.

Além de homicídio doloso, outros seis tipos de crime apresentaram redução. Os casos de assalto a estabelecimento comercial baixaram 18,4%, menos 1.389 casos em 2004, quando houve 6.163 registros.

Insegurança no Rio tende a aumentar

Embora os índices apresentem queda, especialistas em criminalidade são unânimes em afirmar que a sensação de insegurança na cidade deve continuar. Segundo eles, isto se deve a alguns fatores, como os números da violência no Rio ainda muito altos e também o aumento de crimes que atingem um grande percentual da população, como assaltos a ônibus e a transeuntes.

Para a socióloga Edna Del Pomo de Araújo, professora da UFF e estudiosa de criminalidade e violência, a tendência é a insegurança aumentar:

¿ Houve aumento de assaltos em ônibus. Isso é bastante representativo, pois é um tipo de crime que mexe diretamente com a sensação de insegurança.

Membro do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, o sociólogo Ignácio Cano acrescenta que os números da violência no Rio ainda estão em patamares muito elevados:

¿ Percebemos que está havendo um mudança. A cada dia, crimes de rua têm sido mais comuns. Esse é o segundo fator gerador de sensação de insegurança na população, depois do assalto a residências.

Desta vez, o ISP também divulgou os números de uma lista de outros tipos de crimes e ainda o total de roubos e furtos nos dois anos: em 2003 foram registrados 118.998 roubos contra 111.208 em 2004. No ano retrasado foram registrados 119.766 furtos contra 118.927 ano passado. Dos números dos 18 crimes divulgados destacam-se estupro, com 15,4% de casos a mais, ou 157, e atentado violento ao pudor com 350 registros a mais.

O ISP também divulgou os números da violência de novembro e dezembro de 2004. Em novembro, oito tipos de crimes tiveram aumento, com destaque para roubo em ônibus (129,4% em relação ao mesmo mês de 2003). Foram 204 casos em novembro do ano passado. A capital registrou 59,1% dos casos, sendo que a Zona Norte foi a preferida dos ladrões, com 52,1% dos registros. Os outros tipos de crime que tiveram aumento foram assalto a transeunte, com 58,1%, ou 2.281 casos, 65,6% ocorridos na capital e 57,4% na Zona Norte; assalto a residência, com mais 17,6%; roubo e furto de veículos (5,5%); homicídio doloso (8%); latrocínio, com seis casos a mais; assalto a banco, com mais um caso; e extorsão mediante seqüestro, com uma vítima a mais.

Os números de dezembro tiveram redução em seis tipos de crime. Três aumentaram e um manteve-se constante. Roubo em ônibus continuou sua tendência de aumento com 172,5% de casos a mais. Foram 556 casos em dezembro de 2004 contra 204 no mesmo mês de 2003. Foram registrados na capital 60,4% dos casos e a Zona Norte continuou sendo a preferida dos bandidos, com 63,7% dos registros. No período, o crime de latrocínio caiu 41,7%, mas o assalto a transeunte continuou a subir, com 52,6% de casos a mais. O coordenador do Núcleo de Estudo da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, o sociólogo Michel Misse, explica que na maioria dos países a redução dos índices de criminalidade não representou maior sensação de segurança:

¿ A noção que a população tem da insegurança tem um dinâmica diferente em relação aos números da violencias. Essa sensação é formada por outros fatores, como por exemplo a repercussão de um crime na mídia. Acredito que somente uma queda sistemática dos índices num período de no mínimo cinco anos poderia começar a alterar esse quadro.

A diretora do ISP, Ana Paula Miranda, apresentou ontem o boletim a ser enviado à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que registrou cinco tipos de crimes, mas de forma generalizada, para fazer um banco de dados. Os indicadores do Rio apresentaram um aumento no número de ocorrências da ordem de 2,6%. Em 2003 foram 536.163 crimes contra 550.262 no ano passado. Os crimes violentos não-letais contra a pessoa aumentaram 4,6%. Foram 5.054 em 2003 e 5.286 em 2004.