Título: Ministro defende alta da Selic
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/01/2005, Economia, p. 19

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, saiu ontem em defesa de vários pontos da política econômica que estão sofrendo ataques dentro e fora do governo. Depois de passar a manhã reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro garantiu que não houve nem haverá crescimento da carga tributária, defendeu a decisão do Banco Central (BC) de aumentar a Taxa Selic e disse que o regime cambial flutuante será mantido. Essa última afirmação foi um recado ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que vem defendendo a intervenção no câmbio para evitar a queda do dólar e beneficiar as exportações.

Mesmo com uma arrecadação recorde em 2004, Palocci disse que governo vai manter o compromisso de não aumentar a carga tributária em relação a 2002, de 35,5% do PIB. Ele lembrou que, em 2003, o valor ficou em 34,8% do PIB.

¿ Em 2003, apesar das vozes contrárias, a carga tributária caiu. Em 2004, vamos ver que a carga também deve ficar abaixo da verificada em 2002 ¿ disse.

Ele afirmou que o aumento real de 10,62% na arrecadação no ano passado ocorreu não apenas por causa de mudanças na tributação da Cofins (que passou a ser cobrada dos produtos importados e teve uma elevação de alíquota de 3% para 7,6%), mas também porque houve um expressivo crescimento econômico. Segundo Palocci, os ganhos de receita estão sendo repassados para a sociedade por meio de medidas de desoneração do setor de bens de capital e de produtos de consumo popular.

Juros só caem com a inflação sob controle, diz Palocci

O ministro defendeu ainda a medida provisória (MP) 232, que corrige a tabela do Imposto de Renda para as pessoas físicas, mas aumenta a carga tributária para prestadores de serviço. A medida vem provocando protestos e levou o setor de supermercados a ameaçar repassar os custos da nova medida para os preços dos produtos.

¿ Eu não posso crer quando dizem que uma determinada mudança, que está no conjunto de outras mudanças de desoneração, pode significar aumento de preços de um setor. Não vamos valorizar afirmações desse tipo porque elas não encontram respaldo numa mínima avaliação dos dados ¿ disse Palocci.

Ele também defendeu a alta da taxa de juros:

¿ O governo está decidido a não deixar a inflação prejudicar o crescimento.

O ministro não quis fazer previsões sobre quando os juros poderão cair. Ele disse isso dependerá do comportamento da inflação, mas destacou que está otimista.

¿ Estou otimista com 2005. Vejo que vamos ter um ano de crescimento consistente porque os indicadores estão todos favoráveis. Os resultados mostram que houve uma evolução positiva da massa salarial, da renda média e do emprego no país ¿ disse o ministro.

O ministro disse que compreende a impaciência da sociedade em torno dos juros, mas ressaltou que isso é o que o governo pode oferecer agora.

¿ Se isso (alta dos juros) traz impaciência, eu compreendo. Mas o que nós podemos oferecer agora é o atual resultado da economia. Mais do que o maior crescimento da história, eu não consigo ¿ disse.