Título: LULA COBRA CONSCIÊNCIA SOCIAL
Autor:
Fonte: O Globo, 20/01/2005, O País, p. 3

Oresidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os governos anteriores por abandonarem programas que aproximam e integram os cidadãos, como o Projeto Rondon, instituído pela ditadura militar e relançado ontem no Amazonas. Dirigindo-se aos 200 universitários que participam desta etapa do programa, Lula apelou para que a população tenha mais consciência social. Pediu que os estudantes e os jovens em geral tenham maior participação em ações para reduzir as desigualdades e construir um futuro mais humano.

¿ Ter 20 anos no século XXI significa engajar-se na revisão do contrato anti-social, ajudando a construir o presente e o futuro ¿ disse Lula.

Com um chapéu do Projeto Rondon ¿ criado em 1967 e desativado em 1989 ¿ Lula disse que trata-se de um grande programa para a Amazônia e que, nas fases seguintes, poderá ser realizado no Nordeste e nas regiões metropolitanas. Os universitários treinados pelo Exército vão atuar em municípios carentes prestando serviços de saúde, educação, e meio ambiente. O programa fará parte da Secretaria Nacional da Juventude, cuja criação foi anunciada em 29 de dezembro.

Presidente critica individualismo

Para justificar a reabilitação de um programa instituído no regime militar, Lula fez críticas aos governos passados, afirmando que eles ¿abandonaram projetos de desenvolvimento¿ e usaram ¿binóculos invertidos¿. Para o presidente, projetos como o Rondon ajudarão a ¿repactuar o país consigo mesmo¿:

¿ No passado recente, o Brasil trilhou o caminho inverso. O Estado passou a olhar o país como se usasse um binóculo invertido. Distanciou-se do que deveria se aproximar. Perdeu o foco do principal. Renunciou a um projeto de desenvolvimento. O individualismo triunfante corroeu a auto-estima nacional numa espiral de desigualdade. Palavras como solidariedade, justiça, responsabilidade pública, caráter e bem-comum foram relegadas ao dicionário do esquecimento.

Lula disse que, graças à foto com o chapéu do projeto, seria reconhecido no futuro como integrante do Rondon. O presidente falou da importância da experiência também para os jovens.

¿ Para muitos de vocês, essa é uma viagem de iniciação. Sair do lugar da gente, às vezes incomoda, machuca, mas educa. O Rondon é um grande projeto pela Amazônia. Mas vamos chegar ao Nordeste e às periferias metropolitanas do nosso país. A cidadania é a segunda certidão de nascimento do ser humano ¿ disse Lula.

Ele aproveitou ainda para defender o ProUni (Universidade para Todos), que vai beneficiar 100 mil alunos carentes em universidades, e disse que o sistema de cotas para negros e índios são para fazer justiça. Para o presidente, projetos como o ProUni e o Soldado Cidadão são uma ¿resposta avulsa¿ a uma política de abandono do desenvolvimento por parte de governos anteriores.

¿ As cotas são trilhas republicanas da igualdade. Busca-se justiça, mas ela não pode ser neutra (nesse caso) ¿ disse Lula.

Mas quem empolgou a platéia foi o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, que criticou a atuação das ONGs na Amazônia, que ¿roubam sementes e plantas¿. Petta foi aplaudido pelos estudantes e militares, que também fazem restrições ao trabalho das entidades não-governamentais.

Por estar viajando, o presidente não compareceu ontem ao velório de seu irmão Odair Inácio de Góis, que morreu por volta das 22h30m de terça-feira em São Bernardo do Campo, São Paulo, vítima de um ataque cardíaco. Odair tinha 52 anos e era irmão de Lula por parte de pai. O corpo foi sendo velado no Cemitério da Paulicéia, em São Bernardo do Campo. O presidente havia perdido um outro irmão em dezembro, o comerciante João Inácio da Silva Neto, de 41 anos, também irmão por parte de pai. Neto, como era conhecido na família, morreu de câncer.