Título: VIVA A DIVERSIDADE!
Autor: CÂNDIDO GRZYBOWSKI
Fonte: O Globo, 20/01/2005, Opinião, p. 7

Estamos às vésperas de mais um Fórum Social Mundial (FSM). De 26 a 31 deste mês, em Porto Alegre, milhares de ativistas do mundo inteiro se encontrarão para apresentar suas experiências, confrontar análises e debater propostas sobre como tornar a vida mais digna, com relações, estruturas e processos onde todos os seres humanos tenham lugar.

A quinta edição do Fórum será uma oportunidade para valorizar a diversidade social e cultural, extraindo energia da participação e promovendo o uso sustentável do bem comum. Como experimento político e intelectual da nascente cidadania planetária, o Fórum desperta sonhos e vontades, tanto entre seus e suas participantes como nas milhões de pessoas que nos miram com esperança. Pelo Brasil e pelo mundo, provoca também reações contrárias ¿ o que não deixa de ser altamente positivo de um ponto de vista democrático, de construção das soluções possíveis, aqui e agora, para a Humanidade.

Gostemos ou não, o Fórum é uma produção gigante e envolve muita gente, criatividade e um profundo engajamento político em sua realização. Os números impressionam. Até dezembro, inscreveram-se 5.700 organizações e movimentos da sociedade civil de mais de 100 países, que estão vindo a Porto Alegre com mais de 46 mil participantes. Além destes, já estão inscritos 28 mil participantes individuais, número que cresce significativamente nos dias que antecedem o evento e durante a sua realização.

Se isso não prova ¿ no mínimo ¿- a diversidade desse encontro, nada mais provará. Ainda assim é cedo para afirmar se todos os esforços para atrair uma maior participação popular foram suficientes. Este é um desafio claro para as 130 organizações que compõem o Conselho Internacional do Fórum. E, para tentar resolvê-lo, foi criado um fundo de solidariedade que destinou 5% dos recursos totais do Fórum ao financiamento da ida de grupos sociais populares a Porto Alegre. Mesmo o Ibase, uma pequena organização, mobilizou-se internamente e com apoio de funcionários e funcionárias está viabilizando a ida de 40 lideranças populares da Cidade de Deus, do Morro Santa Marta e de algumas favelas da Tijuca.

O Fórum impressiona ainda pela quantidade e diversidade de atividades que serão realizadas. São em torno de 2.500 diferentes atividades agrupadas em 11 espaços temáticos. A definição dos temas foi feita a partir de uma grande consulta, entre maio e julho, aberta às organizações. Construímos em Porto Alegre o Território do Fórum Social Mundial, na orla do Guaíba. Os 11 espaços, com mais de 200 salas para debates e reuniões, com quase 300 tendas para diferentes atividades, com o Acampamento Internacional da Juventude no meio, tendo as práticas da economia solidária no interior como uma marca distintiva, formam o nosso território.

É claro que para isto fomos obrigados a mobilizar uma montanha de recursos, mais de R$17 milhões (captação bruta), sendo R$6,8 milhões do governo federal e empresas estatais, R$2 milhões do governo do Estado do Rio Grande do Sul, R$2 milhões da prefeitura de Porto Alegre, R$1,5 milhão oriundo das inscrições e mais de R$5 milhões da cooperação internacional. Isto sem contar o dinheiro que as organizações e entidades gastam elas mesmas para viabilizar a sua participação.

Mas os maiores desafios ¿- e também o maior resultado ¿- não são ligados à infra-estrutura desse enorme evento. O maior impacto do Fórum Social Mundial depende do que seus e suas participantes levarão de Porto Alegre. Cabe a cada uma dessas pessoas, nos seus locais de origem, nos seus países, transformar idéias em ação, em propostas efetivas e de acordo com suas realidades.

O Fórum Social Mundial funciona como alimento e inspiração, mas não traz receitas. O que para alguns setores conservadores soa como falta de ¿respostas¿ para nós é a conversa que precisamos pôr em dia. Um outro mundo, sim, é possível; mas só nos interessa se a construção for coletiva e democrática.