Título: VIRGÍLIO DESAFIA PT E LANÇA CANDIDATURA
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Fonte: O Globo, 20/01/2005, O País, p. 8
O deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG) finalmente anunciou ontem sua candidatura avulsa à presidência da Câmara, oficializando a decisão de ignorar a bancada petista e os apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendem a candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Virgílio apresentou-se como o candidato do que chamou de novo clero, um grupo independente de deputados sem muita expressão na Câmara.
Horas antes, o líder do PT, Arlindo Chinaglia (SP), apresentou um documento assinado por 87 dos 90 deputados petistas, reafirmando o compromisso do partido com a candidatura de Greenhalgh. Apenas os deputados Ivo José (MG), Jorge Boeira (SC) e o próprio Virgílio não assinaram. Ivo foi o único petista presente no ato de Virgílio.
Após a formalização da candidatura do mineiro, o PT e o Palácio do Planalto passaram a tratar Virgílio como dissidente. Ainda em Tabatinga (AM), o presidente resumiu, em conversa com auxiliares, o seu sentimento em relação ao deputado:
¿ Virgílio escolheu o caminho dele ¿ afirmou, de forma lacônica.
Sinal verde do PT e governo para esvaziar candidatura
Apesar de o PT e o governo manterem publicamente o discurso da cautela e conciliação, nos bastidores foi dado o sinal verde para que seja esvaziada a candidatura de Virgílio. O PT e o Planalto concluíram que qualquer punição mais rigorosa, como a expulsão, transformaria Virgílio em vítima. O partido ainda está traumatizado com o episódio Luizianne Lins, que se elegeu prefeita de Fortaleza apesar de sua candidatura ter sido condenada pela cúpula do partido e por integrantes do governo.
¿ Virgílio não representa o PT e todos os partidos já foram informados disso. O PT não tem dois candidatos. Não vamos desqualificá-lo nem transformá-lo em vítima. O PT vai tentar que Virgílio reverta sua decisão ¿ afirmou o presidente do partido, José Genoino, após o ato de Virgílio.
¿ Virgílio decidiu ficar isolado. Agora é um dissidente, o que é muito ruim ¿ afirmou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).
Para tentar mostrar que Virgílio não estava isolado, os deputados do movimento Câmara Forte, que sustenta sua candidatura, organizaram um evento com representantes de todos os partidos, exceto o PFL. A grande maioria dos presentes não tem visibilidade política na Casa. Havia apenas dois líderes partidário: Pompeu de Mattos (PDT-RS) e Júlio Delgado (PPS-MG). Os líderes do movimento dizem que 58 deputados prestigiaram o ato.
Queimado de sol e transpirando muito, Virgílio disse que tem orgulho de participar de uma campanha que nasceu de uma base de parlamentares. Criou o novo termo para se referir aos deputados que o apóiam: novo clero, um contraponto ao baixo clero, referência pejorativa feita a parlamentares sem maior expressão política.
¿ Represento essa nova geração de parlamentares. São deputados que têm representação. Um novo clero que desconcerta a tantos e não aceita outro tratamento e ordem que não seja a vontade das urnas.
O mineiro disse que conhece o desempenho de cada parlamentar na Câmara.
¿ Minha candidatura não é contra ninguém. É uma defesa para que os partidos sejam mais abertos e pratiquem mais a democracia interna. Sou petista, sou fiel e vou dizer por que minha candidatura é melhor para o PT ¿ afirmou, argumentando que sua candidatura é melhor para o governo porque garantirá uma interlocução mais completa com os deputados.
Dirceu reagiu com irritação ao lançamento de Virgílio
A estratégia do PT e do Planalto é agir em silêncio. No núcleo do governo, a avaliação é que a nova candidatura pode dificultar o desempenho de Greenhalgh, levando a disputa na Câmara ao segundo turno. Por isso, o governo decidiu entrar no jogo. Ontem, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, reagiu com irritação à notícia da candidatura de Virgílio.
Também cresceu no Planalto a pressão de petistas e aliados para que os apoiadores de Virgílio sejam tratados como oposição. Eles podem sofrer retaliações, como a perda de cargos e dificuldades em liberar suas emendas orçamentárias.
Virgílio negou ter voltado atrás, depois de desistir da disputa em favor de Greenhalgh. Disse que tem muita razões para contestar o processo de escolha do candidato oficial do PT, mas que só fará isso depois, num ¿debate histórico¿.
Na contramão de discursos dos principais líderes do Congresso, Virgílio disse que não irá trabalhar para a redução de edição de medidas provisórias pelo Executivo. E afirmou que irá privilegiar, em sua campanha, o contato direto com os deputados.Também não quis se comprometer em dar aumento de subsídios e de verba de gabinete aos deputados. O tema irritou Virgílio, depois de insistentes perguntas dos jornalistas:
¿ Esse não é um assunto do presidente da Câmara, é do Supremo Tribunal Federal, da legislação em vigor. Cabe ao presidente aplicar a lei.
Mas comprometeu-se em reduzir os gastos da Câmara. Deu como exemplo a troca de água mineral por água potável.