Título: DEMOCRACIA A QUALQUER PREÇO
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Fonte: O Globo, 20/01/2005, O Mundo, p. 38
Opresidente dos Estados Unidos, George W. Bush, iniciará seu segundo mandato hoje, ao meio-dia (15h em Brasília), insistindo na idéia de exportar a democracia para outros países a qualquer preço. Ao mesmo tempo, prometerá tornar os americanos mais livres do seu próprio governo. Liberdade, antecipou ele, será seu tema nos próximos quatro anos:
¿ Que tal um dia as pessoas dizerem que George W. Bush usou a grande influência dos EUA para espalhar a liberdade aqui em casa e no exterior? ¿ perguntou o presidente, referindo-se a si próprio na terceira pessoa e já se imaginando numa posição de destaque na História, durante uma entrevista à rede de televisão CBS.
Conservadores pressionam Bush
O rascunho do seu discurso de posse foi alterado 14 vezes nos últimos 14 dias. A versão final tem 17 minutos e, segundo o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, terá mais estilo que substância:
¿ Ele vai falar sobre a importância de se promover a liberdade para obter a paz no exterior e a segurança em casa, e também sobre a importância de se estender a liberdade aqui nos EUA, construindo uma sociedade que seja dona do seu próprio destino. Ele quer que as pessoas tenham maior controle sobre suas próprias vidas, com o governo se metendo cada vez menos ¿ disse McClellan, numa clara referência a mudanças como a da previdência social, que Bush pretende privatizar, de forma que os próprios americanos tratem de investir para garantir aposentadoria e assistência médica.
O porta-voz adiantou que hoje o presidente tocará apenas superficialmente nos temas que considera mais importantes, deixando os detalhes para serem anunciados no discurso sobre o Estado da União, que fará no Congresso no mês que vem.
Bush, no entanto, inicia o novo mandato sabendo que, ao contrário do que muitos esperavam, não terá uma lua-de-mel com o Congresso, apesar de seu Partido Republicano ter maioria.
Os líderes governistas já o advertiram, nas últimas duas semanas, que o desafio interno será maior do que as dificuldades que ele encontrará em sua tentativa de recuperar o prestígio perdido pelos EUA no resto do mundo nos últimos quatro anos. Ele deveria implantar uma política externa que deixe de lado o unilateralismo bélico e retome os caminhos da diplomacia.
Para obter a aprovação das medidas que prometeu na campanha, Bush terá de dar ouvidos à ala mais conservadora do partido. A questão da imigração, por exemplo, está sendo apresentada a ele como item essencial: se Bush não se curvar às restrições mais severas propostas pelos conservadores, estes se recusarão a realizar as reformas que ele quer fazer em outras áreas, como a previdência social.
¿ Se o presidente quer manter a credibilidade na Câmara terá de se unir a nós e aprovar a reforma da imigração desejada pelos conservadores. Se fizer isso, construirá uma ponte que abrirá caminho para mudanças em outras áreas. Do contrário, terá grandes problemas ¿ ameaçou Ray LaHood.
O clima é ainda mais adverso no Senado onde Lindsey Graham, o ultraconservador representante da Carolina do Sul, decidiu passar por cima da proposta de reforma na previdência social sugerida por Bush para criar um projeto próprio. Ele vem obtendo muitas adesões de colegas e se a sua iniciativa prevalecer acabará ferindo uma promessa vital feita por Bush em sua campanha eleitoral: o projeto contempla o aumento de impostos, quando o presidente prometera justamente um corte maior.