Título: VITÓRIA DO AGRONEGÓCIO
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2005, O País, p. 3

Oministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, recebeu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o aval de que ele precisava para retirar do comando da Embrapa os diretores ligados à esquerda do PT, que vinham sendo criticados por se aliarem aos ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e deixarem de lado o agronegócio, motor da economia em 2003 e 2004. Segundo os insatisfeitos, o presidente da Embrapa vinha privilegiando pesquisas na área da agricultura familiar por orientação ideológica.

Na quarta-feira o ministro comunicou ao presidente demissionário Clayton Campanhola que ele seria substituído por Silvio Crestana, que ocupava cargo de direção na Embrapa de São Carlos (SP) e foi indicado pelo PT paulista. Rodrigues e Campanhola se desentendiam desde o início do governo Lula. O ministro se queixava de que o ex-presidente da Embrapa o criticava publicamente e não seguia suas orientações. Há seis meses, Rodrigues vinha reclamando com o presidente Lula da insubordinação, mas o presidente não queria contrariar antigos colaboradores ¿ além de Marina e Rossetto, José Graziano, seu então assessor especial.

Campanhola disse que foi pego de surpresa porque a Embrapa atravessava um dos melhores momentos de sua existência.

¿ A mudança foi política. Eu não mudei nada na Embrapa, porque a empresa é muito estruturada para se privilegiar um ou outro lado. Deixamos a Embrapa na hora em que iríamos colher os frutos ¿ desabafou Campanhola.

Indicação teve o apoio de Genoino

Para não ferir susceptibilidades dentro do PT, o ministro Rodrigues foi hábil em buscar um nome ligado ao agronegócio mas que tivesse a simpatia do partido do presidente e do padrinho de Campanhola, José Graziano, na avaliação do Palácio do Planalto. A indicação de Crestana foi feita pelo prefeito de São Carlos (SP), Newton Lima Neto.

O governo nega que tenha desagradado a ala mais à esquerda do PT. Mas o presidente do partido, José Genoino, fez questão de manifestar apoio às mudanças promovidas por Roberto Rodrigues na Embrapa. Segundo Genoino, o ministro tem o respaldo e o respeito do PT. Ele acrescentou ainda que a direção nacional do partido não participou diretamente da composição da Embrapa e elogiou a sensibilidade demonstrada por Rodrigues ao consultar representantes do PT antes de anunciar a substituição.

¿ Não há crise entre o PT e o ministro Roberto Rodrigues. O partido não vai criar qualquer constrangimento para o ministro, que é uma pessoa que respeitamos. Ele tem o nosso respaldo para fazer todas as mudanças que achar necessárias ¿ garantiu Genoino.

Preocupado com a repercussão da demissão da diretoria da Embrapa que teria sido por pressão dos representantes do agronegócio, o ministro Roberto Rodrigues divulgou nota à imprensa na qual garante que as mudanças não representam preferência da atividade agrícola empresarial em detrimento da agricultura familiar.

¿ A agricultura familiar tem, e continuará tendo, conforme determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prioridade nas políticas executadas pelo Ministério da Agricultura e pela Embrapa ¿ afirmou Rodrigues, reiterando que a troca na estatal faz parte da reestruturação do ministério.

Farão parte da direção da empresa José Geraldo Eugênio, da área de produção vegetal; Tatiana de Sá, especialista em manejo e recursos naturais sustentáveis; e Kepler Euclides Filho, da área de produção animal.

¿ Eles foram indicados com base nos critérios de excelência, liderança e alinhamento aos princípios da empresa ¿ destacou o ministro.