Título: SOBRETAXA DOS EUA DERRUBA SUPERÁVIT BRASILEIRO OBTIDO NO SETOR DE PESCADO
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2005, Economia, p. 26

As sobretaxas impostas à importações de camarão pelos Estados Unidos em 2004 fizeram o superávit da balança comercial brasileira de pescados cair 17,9%. Segundo dados consolidados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a balança comercial do produto fechou o ano passado com resultado positivo de US$184,3 milhões, contra US$224,5 milhões obtidos no ano anterior.

Em 2004, as receitas com exportações de camarão ficaram em US$219,3 milhões, uma queda de 10% na comparação com 2003, quando as divisas alcançaram US$244,8 milhões. Segundo a Secretaria da Pesca, os resultados só não foram piores porque os produtores brasileiros buscaram novos mercados. Além disso, houve aumento de 100% na venda da tilápia e abertura de mercado para peixes nativos, como pintado, pirarucu e tambaqui.

Empresas brasileiras recorreram da decisão

Em dezembro de 2003, os EUA abriram processo antidumping contra o Brasil e ameaçaram taxar o camarão em até 67%. As empresas brasileiras recorreram judicialmente e conseguiram derrubar a alíquota para 10,4% a partir deste ano. Nesse período, os produtores locais suspenderam ou reduziram drasticamente os embarques de camarão para os EUA e passaram a vender este e outros produtos para a Europa.

Graças a essa estratégia, as exportações de pescado subiram 2,7% em 2004 na comparação com o ano anterior e atingiram US$436,4 milhões. Mas o volume exportado de 113,7 mil toneladas caiu para 107 mil toneladas. Apesar disso, o secretário especial da Pesca, José Fritsch, acredita que as perspectivas para 2005 são positivas, com estimativa de crescimento de 30% no saldo comercial de pescados.

¿ A reabertura do mercado americano, com a redução da sobretaxa ao camarão brasileiro para 10,4%, e o acesso do Brasil aos mercados europeus vão ajudar nesse processo ¿ disse Fritsch, acrescentando que o Brasil deverá ser beneficiado com as conseqüências do tsunami na Tailândia e na Indonésia, grandes produtores de camarão.

Segundo ele, esses impactos começarão a ser sentidos já a partir do próximo mês. Fritsch disse também que a produção pesqueira no Brasil ¿ que está em torno de um milhão de toneladas por ano ¿ deverá ser impulsionada pelo acesso aos mercados de Síria e Líbia, além de países da África.

De olho na agressividade da China no continente africano, o secretário viajou ontem para Portugal, onde participará de um fórum com os países de língua portuguesa. Uma das estratégias da missão é fechar acordos com esses países e ocupar espaço. Entre eles, estão Guiné-Bissau, São Thomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Cabo Verde.

¿ Vamos também firmar intercâmbios com esses países, que, apesar de terem grande potencial para a pesca, não têm a infra-estrutura necessária.

Ele explicou que esses países poderão enviar técnicos ao Brasil e empresas brasileiras também poderão se instalar na costa da África.

Este ano, a Secretaria de Pesca terá um orçamento de R$111,3 milhões, sendo que R$27 milhões serão investidos na construção de um terminal público pesqueiro no Rio, próximo à ponte Rio-Niterói.