Título: Um discurso para
passar à História
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2005, O Mundo, p. 29
Ao sair de sua primeira reunião de gabinete após a reeleição, o presidente George W. Bush deu a seu redator-chefe de longa data o tema para o discurso da posse de seu segundo mandato:
¿ Quero que este seja o discurso da liberdade.
No mês seguinte, o redator, Michael Gerson, teve um ataque cardíaco. Com dois stents (dispositivo cardiovascular para manter as artérias abertas) implantados, o redator recebeu uma ligação do presidente que teve o cuidado de não pressioná-lo.
¿ Não estou ligando para saber se o discurso está O.K. Estou ligando para saber se o sujeito que o está escrevendo está O.K.
O discurso da posse fortemente temático foi realmente ¿o discurso da liberdade¿. Não apenas as palavras ¿liberdade¿ e ¿livre¿ apareceram 49 vezes, como o presidente usou a ocasião, transmitida para o mundo, para expor seus motivos para a guerra e a sua visão da missão dos EUA no mundo.
Eu o coloco entre os cinco melhores dos 20 discursos de posse de segundo mandato em nossa História. O profundo sermão ¿sem malícia com ninguém¿ de Lincoln é incomparável, mas o segundo discurso de Bush foi melhor do que o inflamado discurso de Jefferson acusando a ¿artilharia da imprensa¿.
Bush evocou a frase ¿sobrevivência da liberdade¿ de J.F.K. para guiar sua mensagem central:
¿ A sobrevivência da liberdade em nossa terra cada vez mais depende do sucesso da liberdade em outras terras.
Bush repetiu a idéia internacional de direitos humanos com uma pequena mudança nessas palavras: ¿A melhor chance de paz em nosso mundo é a expansão da liberdade em todo o mundo.¿
A mudança na ênfase foi endereçada a acomodados que fazem da ¿paz¿ e do ¿processo de paz¿ a prioridade número um da política externa. Outros de nós ¿ antigamente chamados de linhas-duras, hoje conhecidos como idealistas wilsonianos ¿ colocam a liberdade na frente, lembrando que os EUA freqüentemente têm ido à guerra para conquistá-la e preservá-la. Bush deixa claro que é a liberdade humana, e não a paz, que tem precedência, e que são os tiranos que escravizam pessoas, começam guerras e provocam revoluções. Logo, a disseminação da liberdade é pré-requisito para a paz mundial.
Ele prometeu usar a influência dos Estados Unidos ¿confiantemente na causa pela liberdade¿.
¿ Alguns, eu sei, questionaram o apelo global por liberdade, embora este momento da História, quatro décadas definidas pelo mais rápido avanço da liberdade já visto, é uma hora estranha para dúvidas.
Bush viu o inimigo e não somos nós. Nem é apenas um grupo de nações (¿o eixo do mal¿). Nem o principal inimigo é a tática terrorista.
O presidente identificou o inimigo (e não usou eufemismos, como os redatores de Nixon fizeram ao falar em ¿adversários¿) uma meia dúzia de vezes. O arquiinimigo da liberdade é, agora como sempre, a tirania.