Título: Pelo mundo, reações de ira e desconfiança
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Fonte: O Globo, 22/01/2005, O Mundo, p. 30

aíses citados esta semana pela nova secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, como motivos de preocupação para os EUA por seus regimes considerados repressores, criticaram ontem duramente o discurso de posse do presidente George W. Bush em que ele prometeu lutar contra governos tirânicos. Para o presidente da Bielorrússia (antiga república soviética), Alexander Lukashenko, a liberdade prometida por Bush está ¿banhada em sangue e cheira a petróleo¿.

¿ Falsos estereótipos e idéias são uma maneira ruim de estabelecer uma política externa objetiva. Estamos convencidos de que apenas o diálogo construtivo pode formar a base de relações normais ¿ disse Lukashenko.

Já o ¿Granma¿, jornal oficial cubano, chamou Bush de imperador ao destacar sua ¿nova cruzada para acabar com a tirania no mundo¿. E o criticou: ¿Adiantando o incremento do intervencionismo como eixo da política externa nesta nova etapa, (Bush) justificou a necessidade de estender o poder hegemônico do império.¿

Reações de desdém em países árabes

Nos países árabes, muitas pessoas receberam com desdém a promessa de Bush de defender os povos oprimidos no mundo. Consideraram que ele deveria libertar palestinos e iraquianos para merecer confiança. Analistas árabes disseram que o governo americano não tem feito qualquer pressão para que seus aliados árabes realizem reformas democráticas.

Na Arábia Saudita ¿ onde o governo é aliado de Bush e a maioria da população muçulmana o rejeita ¿ fiéis que faziam a anual peregrinação a Meca participaram de uma cerimônia em que lançam pedras contra o demônio e disseram que estavam apedrejando o presidente.

Na Europa, a imprensa de uma maneira geral demonstrou preocupação de que a promessa de Bush de defender a liberdade no mundo produza mais violência. Na França, onde a posse de Bush recebeu pouco destaque na imprensa, o ¿Libération¿, sob o título ¿Bush, bombeiro planetário¿, disse que o presidente fez um discurso ofensivo sobre a liberdade.

Em editorial intitulado ¿Fogos de artifício em Washington, desespero no mundo¿, o jornal britânico ¿The Guardian¿ afirmou: ¿O presidente e as pessoas que escrevem seus discursos devem se dar conta da tensão que existe entre sua retórica sobre a liberdade, que é universalmente popular, e sua forma de projetar o poder de fogo americano, que é amplamente rechaçado.¿

Na Itália, o ¿La Repubblica¿ considerou a posse ¿a apoteose de um homem tranqüilo, sentado no trono do mundo que o observa com preocupação¿. E acrescentou: ¿O temor do mundo e dos EUA (...) agora é que um Bush demasiadamente seguro de si mesmo se mostre arrogante e sem objetivos.¿

Diferentemente dos europeus, os principais diários americanos destacaram o idealismo manifestado por Bush num discurso que consideraram ambicioso. O ¿Washington Post¿ referiu-se a um ¿idealismo expansivo, de ambição impressionante¿. Para o ¿Wall Street Journal¿, o presidente falou ¿em nome e em favor da consolidação do idealismo do povo americano¿, e o comparou a John Kennedy. Já o ¿New York Times¿ disse que o discurso foi uma mensagem em favor da unidade do povo.