Título: BRASIL IGNORA PRESSÃO DOS EUA PARA NÃO MEDIAR CRISE ENTRE CHÁVEZ E URIBE
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2005, O Mundo, p. 30

O governo brasileiro vai manter os esforços para ajudar a solucionar a crise entre Venezuela e Colômbia, apesar da pressão dos Estados Unidos para concentrar as negociações no Peru e na Comunidade Andina. A posição do governo americano foi manifestada em comunicado aos embaixadores nos países latino-americanos e repassada aos governos dessas nações, como informado ontem pela coluna Panorama Político. Mas foram as críticas dos EUA ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e as recomendações ao governo daquele país em relação ao combate ao terrorismo e ao tratamento que devem ter os líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que causaram mal-estar no Palácio do Planalto.

No comunicado do Departamento de Estado, o governo americano manifesta preocupação com a possibilidade de o episódio se transformar numa crise maior. Elogia a posição do governo colombiano que procurou resolver o assunto ¿por canais diplomáticos¿, mas ataca Chávez. Para os EUA, o presidente da Venezuela tentou transferir a responsabilidade do episódio para o governo colombiano e se distanciou do compromisso de cooperar com vizinhos para combater o terror.

Documento não cita o Brasil, diz Garcia

Os EUA sugerem que a Venezuela adote uma postura mais conciliatória, que inclui especificamente: concordar com um encontro com o governo colombiano sem impor condições, examinar cuidadosamente as provas apresentadas pela Colômbia da presença de sete líderes terroristas na Venezuela e normalizar relações comerciais com o país vizinho. Pedem ainda que os governos dos outros países pressionem o governo venezuelano a encerrar qualquer relacionamento com as Farc e outras organizações terroristas.

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, segue hoje para Caracas, para preparar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Venezuela, em 14 de fevereiro. Amigo de Chávez, Garcia tem uma missão especial: negociar uma solução para o caso. Lula já conversou por telefone com Chávez e pessoalmente com o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe.

Para Garcia, assim como Uribe, Chávez também demonstra disposição para resolver o impasse:

¿ Ele está com excelente ânimo, disposição, preocupado com outras questões e tentando superar esse episódio.

Garcia observou que a mensagem dos EUA se trata de um non-paper, reflexões de um governo sobre determinado tema, e não um comunicado oficial. Segundo ele, não há restrições à atuação do governo brasileiro.

¿ O Brasil não é mencionado ¿ afirmou.

No documento, os EUA manifestam apoio à atuação do Peru e da Comunidade Andina na solução da crise e pedem ajuda a essas ações e aos ¿gestos de boa vontade dos demais países membros da Organização dos Estados Americanos¿. Segundo a embaixada americana, o comunicado foi transmitido a todos os países do continente e não faz restrições à atuação do governo brasileiro.

¿ Somos solidários com a Comunidade Andina e felicitamos o governo peruano. Não estamos concorrendo, estamos convergindo no esforço de resolução do conflito ¿ disse Garcia.

Em Caracas, o ministro venezuelano da Comunicação, Andrés Izarra, confirmou o recebimento da lista do governo colombiano com os nomes dos guerrilheiros que estariam na Venezuela, e anunciou que seu país enviará também uma lista a Bogotá, com terroristas venezuelanos que teriam se refugiado no país vizinho.