Título: OAB CRITICA GOVERNO NO CASO DE SEQÜESTRADO
Autor:
Fonte: O Globo, 22/01/2005, O Mundo, p. 31

Enquanto os responsáveis pela apuração do caso do brasileiro, funcionário da Odebrecht, continuam sem notícias sobre o paradeiro do engenheiro desaparecido no Iraque, a condução das investigações se tornou alvo de polêmica: a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota na qual cobra a atuação direta do governo no caso. À tarde, o Itamaraty rebateu as críticas, negou omissão e informou que a ação dos diplomatas brasileiros tem sido pautada pelo pedido expresso da construtora para que a empresa atuasse inicialmente no caso.

A direção da Odebrecht na Flórida, responsável pelo contrato no Iraque, acompanha o caso por intermédio da Janusian Security Risk Management, companhia britânica contratada para dar segurança à construtora no Iraque. A única suspeita divulgada até agora é que o brasileiro poderia ter sido seqüestrado pelo grupo Ansar al-Sunna, que assumiu a autoria de um seqüestro na mesma região onde o comboio do engenheiro foi atacado. Não há garantia, porém, de que se trate do mesmo caso.

Ontem, o grupo anunciou que o assassinato de um britânico e um sueco em Baiji, mesma cidade em que o brasileiro foi levado, foi um ¿sacrifício para satisfazer Deus¿. O mundo islâmico comemora estes dias o feriado de Eid al-Adha, que relembra a disposição de Ibrahim (o Abraão bíblico) de matar seu filho por ordem de Deus.

Pela manhã, o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Edísio Simões Souto, disse que a entidade não concorda que apenas a construtora esteja negociando:

¿ Trata-se de um brasileiro e, portanto, deve ser questão de Estado resolver esse caso, em que é preciso o concurso da diplomacia brasileira.

Em resposta, o Itamaraty divulgou à tarde comunicado no qual rebate qualquer alegação de omissão. ¿O ministério acompanha o caso em estreita coordenação com a construtora Odebrecht e se colocou desde o início à disposição da empresa para prestar todo auxílio que se faça necessário.¿

O governo brasileiro não tem diplomatas no Iraque desde 1991. Saíram diplomatas e servidores e permaneceu apenas um funcionário contratado no local para tomar conta do patrimônio da embaixada.

Ano passado, o governo chegou a estudar a reativação da embaixada, mas isso não foi feito por questão de segurança. Os interesses do Brasil no Iraque são tratados pelo escritório criado para isso em Amã, onde trabalha o ministro Paulo Joppert.

Segundo dados da Câmara de Comércio Brasil-Iraque, a Odebrecht, que retirou os seus funcionários do Iraque depois do desaparecimento do engenheiro, era a única empresa brasileira a manter empregados lá. Ele explicou que outras empresas têm negócios com o país, mas que se restringem à venda de produtos brasileiros.

Marco Aurélio Garcia diz que OAB está desinformada

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse ontem que o governo está preocupado com a situação do brasileiro e que o Ministério das Relações Exteriores já estava tomando as medidas necessárias antes de o caso se tornar público. Para Garcia, a OAB demonstra desinformação ao criticar a atuação do governo. Destacou ainda que a situação no Iraque é muito complicada e o governo não sabia a natureza do seqüestro: político ou criminoso.

¿ Condenamos todo tipo de seqüestro, mas o tratamento que se dá a um seqüestro de natureza política é diferente daquele que se dá a seqüestro de outra natureza, em termos de negociação ¿ argumentou.

Jalal Chaya, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Iraque, vai propor à Confederação Brasileira de Futebol a realização de um jogo entre as seleções brasileira e iraquiana, a exemplo da partida realizada com o Haiti, em 18 de agosto. Otimista, o empresário iraquiano acredita que a simpatia do povo de seu país pelo Brasil é tanta que não deve acontecer nada ao engenheiro.

¿ Quando descobrirem que ele é brasileiro, tenho certeza de que não vai acontecer nada. Os iraquianos adoram o Brasil ¿ garantiu ele.