Título: DESAFIO É RESTAURAR UNIÃO DOS GOVERNISTAS
Autor:
Fonte: O Globo, 23/01/2005, O País, p. 13

Com a base dividida em torno da eleição dos novos dirigentes da Câmara, o grande desafio do PT e dos articuladores da campanha de Luiz Eduardo Greenhalgh será convencer os deputados de que somente a vitória do petista garantirá o fortalecimento dos partidos, o respeito aos acordos, à proporcionalidade e às regras de fidelidade partidária.

Os governistas também vão usar o argumento de que Virgílio, ao se lançar de forma avulsa após renunciar à disputa, está desrespeitando a vontade da bancada, que, na semana passada, reforçou o apoio a Greenhalgh em documento assinado por 87 dos 90 deputados.

¿ Toda vez que um partido é desrespeitado na sua vontade coletiva, o Parlamento e as legendas ficam enfraquecidos ¿ afirma Greenhalgh, negando o rótulo de que sua candidatura é chapa-branca ou determinada pelo Palácio do Planalto:

¿ Fui escolhido por uma característica que a bancada reconheceu em mim: a independência. Não sou articulado com nenhuma tendência do PT. Vou ser presidente da Câmara mantendo a autonomia e independência do poder. Agora, quero que a Câmara tenha relação harmoniosa com os demais poderes.

Viagens para desfazer imagem de sisudo

Com uma agenda de viagens pelo país para contatos pessoais com deputados e governadores ¿ que exercem grande influência nas bancadas estaduais na Câmara ¿ Greenhalgh tenta desfazer a imagem de que é sisudo e arrogante. Líderes aliados que apóiam o petista lembram que o processo sucessório na Câmara está no início e só será possível avaliar e mapear votos no início de fevereiro com a volta gradual dos parlamentares que estão de férias.

O PT, sob o comando de José Genoino, tem uma missão difícil: desidratar a candidatura de Virgílio mas sem perseguição, para não transformá-lo em vítima. O PT e o governo consideram que, se Virgílio se tornar vítima desse processo, sua candidatura terá chances. Outra dificuldade é que, pelo cenário de hoje, a decisão deverá ser em segundo turno. Tentar convencer os outros três candidatos a desistir da disputa é outro desafio.

O candidato que chegar à reta final com maior apoio tem chance, apesar de remota, de ganhar em primeiro turno. Para isso é necessária a presença de pelo menos 257 deputados em plenário. A vitória se dará com a maioria absoluta dos votos válidos (que inclui os votos em branco). Historicamente, comparecem ao plenário em dias de eleição todos os 513 deputados, o que significa que serão necessários 257 votos para ganhar no primeiro turno.

Greenhalgh diz que não perdeu a esperança de ver Virgílio desistir. Mas afirma que sua estratégia é trabalhar com a realidade política de hoje, que indica a probabilidade de acontecer um segundo turno.