Título: DESAFIO DO FÓRUM SOCIAL É PASSAR DA TEORIA À AÇÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 23/01/2005, Economia, p. 37

A quinta edição do Fórum Social Mundial (FSM) começa quarta-feira, em Porto Alegre, com recorde de público e um desafio: sair da teoria para a prática. Desde 1999, os manifestantes antiglobalização conhecido como ¿o povo de Seattle¿, se juntaram em seus protestos por Praga, Davos, Gênova e se consolidaram como um movimento dos movimentos no FSM, criado em 2001, no Brasil. Muito mudou. Em lugar da antiglobalização, o movimento defende agora ¿an other globalization¿, ou seja, uma outra forma de globalização, com propostas antineoliberais.

Muito se falou nas últimas quatro edições pela voz de teóricos como o americano Noam Chomsky ou o egípcio Samir Amin. Ou mesmo pelas figuras de políticos como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ O Fórum Social Mundial se tornou uma grande reflexão política. Não é o cara tocando violão na porta do parque dos anos 70. Com os protestos e o primeiro FSM já conseguimos mudar Davos (o Fórum Econômico Mundial): hoje você lê o site deles e vê que se parece com o site do MST. Agora a novidade é a metodologia do Fórum. Ela resultará em planos de muita ação ¿ avalia Oded Grajew, idealizador do FSM e ex-assessor especial de Lula.

Nova proposta é tirar holofotes dos intelectuais

Na prática, a nova metodologia do Fórum ajuda a tirar os holofotes dos intelectuais para popularizar o FSM, segundo Cândido Grzybowski, do secretariado internacional. Quem organiza as atividades são cerca de 2.500 redes da sociedade civil. Nesta linha, os grandes intelectuais e ativistas mais conhecidos estarão mais misturados à babel popular do que nas edições anteriores. Ao fim de cada debate, o destaque será para as propostas de ação, afixadas nos murais pelas organizações que participam da programação do encontro neste ano.

Outro fundador do FSM, Chico Whitaker, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), diz que se trata de uma ¿dinâmica de ação¿ para uma nova cultura política:

¿ Os intelectuais não ficarão na vitrine. Além de debates, teremos mais propostas.

O Território Social Mundial, o espaço em que o FSM acontecerá, será um laboratório de opções para um mundo mais sustentável e socialmente justo, nos moldes do slogan ¿Outro mundo é possível¿, apresentando propostas de bioconstrução, moeda alternativa e cooperativismos.

Para pôr em prática suas principais idéias ¿ o fim do imperialismo americano, das guerras e da concentração de renda e a mudança dos mecanismos globais, como ONU, FMI e OMC ¿ o Fórum precisa se popularizar, dizem os organizadores. Afinal, segundo pesquisas dos organizadores, 65% dos participantes do FSM têm nível universitário.

A passagem da última edição pela Índia inspirou a volta ao Brasil, com a instalação de grandes tendas. As traduções serão feitas em 15 línguas. Haverá mais música e cultura, com 400 atividades já programadas, além de 20 fóruns paralelos.

¿ Em Mumbai, o Fórum foi mais popular, e é este aprendizado que queremos aplicar¿ afirma outra fundadora, Maria Luiza Mendonça.

Mas tanto os intelectuais como o próprio Lula terão espaço garantido. O presidente discursará para cerca de 20 mil pessoas, no Gigantinho. Vai continuar falando da fome e da campanha contra a miséria. Mas será também cobrado, dizem os organizadores. Assim, o FSM servirá para um balanço dos dois anos de governo, adianta seu assessor especial Marco Aurélio Garcia:

¿ É claro que seremos criticados pela macroeconomia. Lula dirá que é uma empreitada longa.

Estatais podem bancar até US$2 milhões do FSM

O custo do FSM, estimado em US$4,5 milhões (R$12,5 milhões), passa pelo governo Lula. A estimativa é que Petrobras, Caixa Econômica Federal, Eletrobrás e Banco do Brasil banquem de US$1,5 milhão a US$2 milhões. Segundo os organizadores, há uma independência completa do FSM.

¿ Acolher e apoiar o FSM hoje é interesse de todos ¿ argumenta Grajew.