Título: UMA FAMÍLIA MARCADA PELA REPRESSÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 23/01/2005, O País, p. 4

O professor gaúcho Manoel Custódio Martins se opôs à ditadura militar, foi perseguido pela repressão, deixou o país e suicidou-se no exílio, em Santiago (Chile), em fevereiro de 1978. Sua devoção à esquerda e aos princípios comunistas está registrada nas identidades dos seus seis filhos, todos batizados com nomes de líderes, políticos e pensadores socialistas: Fidel Patrice, Francisco Leonel (em homenagem a Brizola) e Carlos Henrique (em homenagem a Karl Heinrich Marx), por exemplo, são os nomes de alguns deles.

No processo na Comissão de Mortos e Desaparecidos, Manoel é apresentado como ¿fervoroso admirador de Leonel Brizola e João Goulart¿, políticos com os quais conviveu no exílio no Uruguai. Foi às rádios de Novo Hamburgo (RS), onde vivia em 64, para defender a legalidade, Jango e Brizola. A viúva de Manoel, Célia Ferreira Martins, conta o drama que sua família viveu. Ela vive em Rio Grande (RS), na divisa com o Uruguai.

¿ Não sai da minha cabeça o noticiário do Repórter Esso, na rádio, em 1964, dizendo que Manoel era um famigerado professor procurado no céu, na terra e no mar. Foi a senha para ele deixar o país ¿ conta Célia.

No exílio no Uruguai, a família passou dificuldades financeiras. Então, Manoel seguiu com a família para o Chile, onde viveu entre 1965 e 78. Dois de seus filhos nasceram em Santiago. Para sobreviver, deu aulas de português para filhos de outros brasileiros exilados, entre os quais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Com a situação financeira ainda difícil, o professor entrou em depressão. Em casa, depressivo, Manoel ameaçava cometer o suicídio a todo momento. Deixava pendurada uma corda, como uma forca, num quarto.

Hoje Célia Martins sobrevive com o benefício de um salário-mínimo por ter mais de 70 anos. O processo na comissão, que, se aprovado pode garantir à viúva uma indenização de até R$150 mil, está em diligência, em busca de documentos que comprovem a militância política de Manoel Custódio Martins e a responsabilidade do Estado em sua morte. O documento da Abin encaminhado à comissão e obtido pelo GLOBO informa que ele foi um líder comunista e ligado ao PCB.