Título: PARENTES DE VÍTIMAS DA DITADURA DIZEM QUE ABIN MENTIU SOBRE DOCUMENTOS
Autor:
Fonte: O Globo, 23/01/2005, O País, p. 4

A revelação de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) recusou-se a repassar para a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos informações disponíveis em seus arquivos sobre perseguidos políticos na ditadura militar, publicada ontem pelo GLOBO, foi recebida com indignação por parentes de vítimas e integrantes da comissão. Eles consideraram grave o fato de a Abin ter negado a existência de documentos que começaram a ser encaminhados à comissão somente no fim de 2004 pela agência. Para Suzana Lisbôa, representante dos parentes de vítimas da ditadura na Comissão de Mortos e Desaparecidos, a Abin mentiu e teve atitude revanchista:

¿ Fica provado que a Abin mentiu. A Abin, nesses anos todos, escamoteou a verdade, descumpriu a lei e adotou uma postura revanchista ¿ disse.

Os documentos solicitados pelas famílias e que vinham sendo negados pela Abin são decisivos na instrução dos processos que tramitam na comissão e julgam se o Estado é culpado ou não pelo que ocorreu com o perseguido político. O advogado Belisário dos Santos Júnior, integrante da comissão, classifica como prevaricação (crime cometido por funcionário público) a atitude da Abin e pede que o caso seja levado ao Ministério Público.

¿Prejuízo incalculável¿, diz representante das famílias

Nos ofícios de resposta à Comissão de Mortos e Desaparecidos, a Abin alegava que o pedido não poderia ser atendido por ser inconstitucional.

¿ A falta dos documentos deu muito trabalho na comissão. Quantos casos não perdemos porque esses arquivos não foram tornados públicos? Um prejuízo incalculável ¿ disse Suzana.

Apesar das críticas, Suzana e Santos Júnior elogiaram o novo diretor da Abin, Mauro Marcelo Lima, por atender aos pedidos da comissão e mandar os documentos. Suzana disse que a comissão vai requisitar a liberação de fichas e documentos existentes nos porões da Abin, antigo Serviço Nacional de Informações (SNI):

¿ Só podemos cumprimentar o novo diretor.

Suzana criticou o fato de o governo manter David Bernardes de Assis como coordenador de Documentação da Abin. Bernardes, que serviu ao SNI, é quem assina o ofício negando o repasse de documentos e certidões. Numa das respostas que enviou à comissão, em setembro de 2003, ele afirma que, ¿a título de colaboração¿, pesquisou mas nada encontrou sobre as pessoas citadas.

¿ É lamentável que pessoas que participaram da ditadura estejam dentro desses órgãos e ousem prestar informações sobre o que tem ou não nos arquivos ¿ disse Suzana.