Título: Investir em idéias dá bons lucros
Autor: HERMAN WANG
Fonte: O Globo, 24/01/2005, Opinião, p. 7

A democratização da tecnologia na produção industrial é indiscutível. O que há alguns anos era um diferencial para poucos, hoje está mais acessível mesmo para empresas menores. A necessidade e o desejo por artigos tecnologicamente avançados suscitaram uma demanda que, para ser atendida, alastrou o conhecimento de técnicas modernas e barateou o produto final. Então o que representa um diferencial, após o boom da tecnologia? As idéias e os propósitos por trás de cada objeto criado. Fazer da tecnologia não um fenômeno isolado, mas um meio para se chegar a novidades reais, antecipar as vontades e as necessidades do cliente e inovar, de fato, em conceito e a funcionalidade.

Como todos os períodos na história da produção industrial, o da tecnologia deve passar por um momento de revisão. Produtos iguais, apenas com aparência diferente, não são recebidos com empatia pelos consumidores. Na correria do dia-a-dia, conquistam crédito aqueles produtos que agregam praticidade e qualidade à vida dos clientes. O que é considerado básico já existe e o que faz a diferença são elementos facilitadores, apresentados de forma particular. Foi assim que alguns produtos, como o celular, tornaram-se básicos.

Desde Thomas Edson a natureza da tecnologia é a de servir às nossas necessidades e, em alguns casos, o tempo se encarrega de criar necessidades a partir de uma inovação. Como se a necessidade existisse, mas apenas algum sábio tivesse a capacidade de percebê-la e saná-la. Casos como o telefone, o fax, a televisão e uma infinidade de aparelhos que hoje fazem parte da nossa vida, foram questionados em sua utilidade na época em que foram inventados, mas o tempo deu a resposta. Assim, todo inovador é um visionário e hoje essa visão rara não deve se focar somente em grandes mudanças, mas também nos detalhes.

A originalidade de maneira geral sempre foi bem-vinda. É verdade. A diferença entre a época da primeira televisão e agora é a concorrência. Equipamentos cheios de botões e produtos com aparências diferentes surgem aos montes, basta uma empresa dar o primeiro passo para que outras sigam o mesmo caminho. A `indústria da cópia' não é novidade e, como tal, não tem forte impacto sobre os consumidores porque não agrega praticidade, funcionalidade e estilo ao cotidiano de quem o compra.

Ser definitivamente diferente de tudo o que já existe e ser o primeiro é o que conta. Dentro desse contexto, torna-se cada vez mais importante para as empresas conhecer o público-alvo com o qual trabalha. O perfil do consumidor tem de ir muito além do gênero e da idade, as empresas precisam conhecer a fundo o cotidiano e, portanto, as necessidades mais específicas de seus clientes, para surpreendê-los de fato.

Não importa o setor em que atua, a sobrevivência e o sucesso de uma empresa dependem da relação saudável e renovada com o consumidor. A realidade do mercado é bastante competitiva e todo lançamento será copiado, mais cedo ou mais tarde. Por isso, a importância de ser o pioneiro, a vanguarda na implementação de qualquer idéia e o investimento em pesquisa, de público e de idéias, dá essa possibilidade.

Para inovar é preciso unir criatividade, pró-atividade, talento e comunicação de qualidade, essa é a mistura que garante às companhias uma equipe de trabalho motivada e competente em antecipar as necessidades dos clientes, a inovação começa nos sistemas e na equipe de trabalho. Aos bons inovadores cabe saber que inovar significa testar. E testes significam erros também, mas um único acerto compensa. É essa consciência que determina que pesquisa não é perder dinheiro, mentalidade que ainda engatinha no Brasil, mas já é um começo.

Numa avaliação mais primária o investimento em inovação pode não parecer compensatório porque ele precisa ser constante, ao passo que o dinheiro gasto em tecnologia, apesar de alto, acontece em apenas um lance. Mas bem aplicado, e aliado aos equipamentos de última geração, o investimento em idéias produz os melhores resultados em lucro e em visibilidade de marca.