Título: O BRASIL SÓ TEM 975 PATENTES
Autor: DIRCEU WOLLMANN JUNIOR
Fonte: O Globo, 24/01/2005, Opinião, p. 7

As potências destacam-se pela produção de tecnologia. E uma boa medida da evolução das nações, nessa área, está no número de patentes concedidas internacionalmente.

É notável a estreita correlação entre o Produto Interno Bruto e o número de patentes concedidas a um país. Uma das mais respeitadas organizações de concessão de patentes é o escritório de patentes americano ¿ na sigla em inglês, USPTO. Segundo ele, de 1976 a 2005, foram concedidas nos Estados Unidos aproximadamente 1.226.000 patentes a empresas dos EUA; 556.000 do Japão; 183.000 da Alemanha; 74.000 da França; 54.000 da Inglaterra; 39.000 do Canadá e 28.000 da Itália.

A Coréia do Sul, por meio de políticas industrial e educacional adequadas, que há poucos anos ainda era inexpressiva em termos de tecnologia, já se ombreia com as nações desenvolvidas: obteve 33.500 patentes das concedidas pelo USPTO.

O Brasil apresenta, modestamente, 975 patentes. Está atrás da Espanha, que contabiliza 2.600. Um pouco pior do que o Brasil está o México, com 600 patentes. Temos que nos acautelar em relação à China (1.600) e à Índia (1.170). A Indonésia, com apenas 83 patentes, é candidata à potência em futuro próximo. Seria a exceção confirmando a regra. Austrália (10.100), Holanda (20.850), Rússia (920) e África do Sul (1.380) estão melhores que o Brasil.

Precisamos tentar nos aproximar desses países se não quisermos ir perdendo posições no ¿ranking¿ do desenvolvimento, considerando que muitos dos nossos indicadores econômicos e sociais são vergonhosos.

A Petrobras aparece como a principal produtora de tecnologia, com 144 das 975 nacionais. Outros ¿destaques¿ são Furnas (17), Vale do Rio Doce (13), Fiocruz (9), Embrapa (3), Copel (3), CBPF (2), USP (1), UFRJ (1). A surpresa é a Empresa Brasileira de Compressores (Embraco), com 68 patentes concedidas nos EUA e 352 em outros países.

Quanto à Petrobras, é bom lembrá-la que suas congêneres do mundo ocidental a deixam em situação não muito confortável, na geração de tecnologia, apesar de seu sucesso internamente: Mobil (6.000), Shell (5.700), Texaco (3.900), Chevron (2.800), BP (940), Conoco (904), Marathon (550), Total (280), entre outras. Não foi sem motivos que a Petrobras recentemente desmobilizou sua área de comercialização de tecnologias...

A geração de tecnologia em nossas universidades é praticamente inexistente. É sabido que sua preocupação maior é com o avanço científico, mas uma maior participação na área tecnológica seria muito importante ao país. Vale lembrar a produção de patentes de algumas instituições dos EUA: Universidade do Texas (2.000), Harvard (644), Universidade de Columbia (1.500), MIT (2.850).

Embora tenha uma importante indústria automobilística, o Brasil não registrou nos EUA nenhuma patente de suas montadoras. É claro, esta nobre atividade fica por conta de suas matrizes, nos países centrais. Daí nunca ser demais nos lembrarmos da importância de fomentarmos dezenas, centenas de novas ¿Embracos¿.