Título: Ações de energia e telecomunicações afetam desempenho da Bolsa em 2005
Autor:
Fonte: O Globo, 24/01/2005, Economia, p. 18

As ações de empresas de telecomunicações ¿ as de maior peso no Ibovespa, já que representam 36% no índice que reúne os papéis mais negociados ¿ encerraram 2004 com ganhos, na média, de 5%, ante uma alta de 17,8% da Bolsa de Valores de São Paulo. Porém, em alguns casos, houve perdas de até 42% no setor. Em 2005, o quadro não mudou: o setor acumula desvalorização de 14,8% até o dia 20 de janeiro, enquanto o Ibovespa teve queda de 9,9% no período.

Gustavo Alcantara, gestor de fundos do Banco Prosper, explica que a concorrência acirrada e a falta de políticas mais fortes de proteção aos acionistas minoritários devem continuar prejudicando os papéis. Para este ano, as grandes apostas dos analistas estão nas ações dos setores bancário e de consumo.

Mineração e siderurgia têm boas perspectivas

Os papéis de telecomunicações têm rendido menos que a média da Bolsa desde 2003:

¿ A competição reduziu as margens de lucro das celulares, que baixam os preços dos produtos e serviços na tentativa de manter clientes, e também sua participação no mercado ¿ avalia Ricardo Junqueira, sócio-diretor da Ático Asset Management.

Ricardo Magalhães, gestor de Renda Variável da Mellon Global, diz que, para as empresas de telefonia fixa, as perspectivas também não são boas:

¿ As fixas não têm tido crescimento e as ligações telefônicas via internet, a um custo mais baixo, são uma grande ameaça ao setor, como foi o cancelamento de linhas fixas por clientes que optaram pelo baixo custo do celular pré-pago. Não há, hoje, potencial grande de crescimento para o setor, o que reduz drasticamente a atratividade dos papéis.

Gustavo Harckbart, analista de Renda Variável da Fides Asset Management, acredita que uma política mais agressiva de pagamento de dividendos poderia atrair investidores:

¿ Hoje de 8% a 9% do valor da ação voltam para o acionista na forma de dividendos. É quase o dobro da média de mercado, mas, devido à forte geração de caixa das empresas, esse percentual poderia ser pelo menos duas vezes maior.

O mau desempenho das ações de telecomunicações tem prejudicado o Ibovespa, devido à sua grande participação no índice. Esse também é o caso do setor de energia elétrica, que detém 12% do Ibovespa. Em média, as ações subiram 10,2% no ano passado, mas acumulam queda de 15,7% este ano.

¿ O setor é dominado por estatais e nem sempre o interesse dos controladores acompanha o dos minoritários, então a visão política pode pesar mais que a empresarial, o que derruba os papéis ¿ diz Harckbart.

Alcantara, do Prosper, lembra que os investidores bateram em retirada a partir do leilão de energia ¿velha¿ (já existente), em dezembro, cujos negócios foram fechados com valores abaixo das projeções do mercado.

¿ Com os apagões, no início do ano, o mercado ficou ainda mais desiludido com o setor, que já preocupava devido às elevadas dívidas ¿ explica.

Consumo interno beneficia bancos e ações de varejo

Para analistas, as boas perspectivas de valorização estão nos papéis dos setores de mineração e siderurgia ¿ que vêm mantendo o bom desempenho dos anos anteriores ¿ e nos ligados ao consumo interno.

¿ O preço da Vale do Rio Doce, por exemplo, não reflete todo o potencial do mercado de minério de ferro. Com os fortes investimentos para 2005, que estão 80% maiores que os do ano passado, as perspectivas são excelentes para o setor ¿ diz Harckbart.

Já Magalhães está atento ao setor bancário e ao varejo:

¿ A expectativa de manutenção dos juros em níveis elevados e a expansão do crédito devem beneficiar o setor, aumentando lucros. Papéis ligados ao consumo interno, como Natura, Alpargatas, Grendene e Lojas Americanas, apesar de não estarem no Ibovespa, têm ótimas perspectivas devido ao aumento de renda: podem render mais que a Bolsa este ano.

¿ O varejo é uma promessa sólida para este ano. Além de Lojas Americanas, vejo potencial nas ações do Pão de Açúcar, da AmBev, da Sadia e da Perdigão ¿ diz Alcantara.