Título: CELULAR VAI SE TRANSFORMAR EM CARTÃO DE CRÉDITO
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Fonte: O Globo, 24/01/2005, Informatica, p. 3

As pessoas já estão usando seus telefones celulares para ler e-mails, tirar fotos e jogar videogames. Não vai demorar muito, vão usá-los no lugar de suas carteiras. Ao se embutir no celular um chip de computador ou outro tipo de dispositivo de memória, ele pode virar um dublê de cartão de crédito. A função do chip é a mesma da tarja magnética do cartão propriamente dito, a qual armazena informações da conta da pessoa e outros dados necessários para fazer uma compra.

Na Ásia, fabricantes de celulares já estão vendendo telefones que podem ser passados por leitoras de cartões de crédito e débito, do mesmo modo que você passaria um Visa ou Mastercard. Há testes em andamento para levar a tecnologia aos EUA, segundo executivos da indústria.

Ron Brown, diretor-executivo da Infrared Data Association, entidade comercial representando empresas que incentivam a adoção da tecnologia do ¿celular de crédito¿, diz que os novos aparelhos poderiam se tornar ¿uma grande forma de pagamento, já que os celulares são os dispositivos mais ubíquos no mundo¿. Ele acrescentou, no entanto, que ¿o dinheiro vivo jamais irá embora¿.

Os adeptos da novidade dizem que os consumidores adotarão rapidamente a tecnologia, inclusive para pagar por pequenas compras, porque será mais fácil do que tirar um cartão de crédito da bolsa para efetuar o pagamento ou se desfazer de notas e moedas.

As mudanças iminentes no celular coincidem com grandes transformações também no setor bancário. Uma vez que os cartões de crédito são considerados meio inconvenientes para compras pequenas e rápidas, a maioria das administradoras de cartões de crédito desenvolveu tecnologias de ¿pagamento sem contato¿ que permitem aos fregueses de um estabelecimento apenas aproximar seus cartões de uma leitora na saída, sem precisar deslizar a tarja por ela, nem assinar seus nomes.

A Mastercard, por exemplo, apresentou um sistema chamado PayPass que faz justamente isso, do mesmo modo que motoristas usam passes e sistemas similares para pagar o pedágio e clientes dos postos Esso usam o SpeedPass para abastecer nos postos de gasolina. Muitas das grandes administradoras de cartões usam o sistema PayPass e o McDonalds concordou em aceitá-lo em algumas de suas lanchonetes.

E a American Express anunciou no fim de 2004 que teria seu sistema, o ExpressPay, em mais de cinco mil farmácias CVS até meados deste ano.

Os fabricantes de celulares esperam que estes novos sistemas de pagamento facilitem a chegada ao mercado dos aparelhos com funções de cartão de crédito ¿ embora os mesmos sistemas possam representar uma concorrência à prática de pagar com o celular.

Segurança reforçada para as novas funções do telefone

O casamento de celular e cartão apresenta, por outro lado, desafios significativos, inclusive problemas de segurança. Para reduzir fraudes via telefones roubados, poderá ser pedido aos consumidores que aceitem um código de autorização dentro de seu celular toda vez que uma cobrança for feita.

Faz mais de um ano que fabricantes de celulares, empresas de software e fabricantes de chips de computadores vêm trabalhando para desenvolver uma tecnologia de pagamento segura e confiável para celulares. Depois que o chip do telefone é reconhecido pela leitora eletrônica, o número do cartão de crédito será verificado (como o é atualmente) e o preço da compra será acrescentado à fatura do cartão da pessoa.

Os novos telefones também poderiam ser pré-pagos: teriam direito a uma quantia X, da qual seriam deduzidos os gastos do consumidor.

Mas houve alguns probleminhas nos testes dos novos celulares, segundo Jorge Fernandes, executivo-chefe da Vivotech, empresa de software para celulares com sede em Santa Clara, Califórnia.

Em dois testes, um numa empresa do Meio-Oeste e outro na Santa Clara University, a Vivotech usou infravermelho para comunicação entre o celular e a leitora de cartões. Os participantes tiveram que apontar bem o telefone para a leitora, que só o reconhecia quando o aparelho ficava em determinada posição. Só assim o raio de infravermelho era detectado.

¿ As pessoas ficaram muito irritadas ¿ disse Fernandes. ¿ Apontar seu celular para um alvo é muito difícil.

Ele afirmou que a empresa crê ter resolvido o problema ao trocar o infravermelho por sinais de rádio em baixa freqüência. No mês passado, a Vivotech começou a testar a tecnologia, que permite ao usuário pôr o telefone a alguns centímetros da leitora, num estádio de esportes na área de Atlanta.

Enquanto isso, os celulares estão se tornando um grande meio de pagamento na Coréia do Sul e no Japão. Neste último, a NTT DoCoMo diz que já vendeu mais de um milhão de celulares equipados com chips para pagamentos.

Mais de 13 mil lojas japonesas têm leitoras eletrônicas capazes de se comunicar com os celulares. Por enquanto, os telefones são mais usados para debitar valores de uma quantia preestabelecida, que é ¿depositada¿ no aparelho através da conexão com uma espécie de caixa eletrônico ao contrário: ele pega o dinheiro e dá o crédito ao celular.

Na Coréia do Sul, as pessoas já usam os celulares como cartões de crédito, diz Sue Gordon-Lathrop, vice-presidente para a plataforma de produtos para o consumidor da Visa International. Para ela, eventualmente os consumidores americanos abraçarão as novas funções, mas de maneira mais lenta que nos dois países orientais, onde a população já está acostumada a usar os celulares para diversos fins.

Além disso, diz Sue, há mais operadoras de celular nos EUA, o que dificulta a adoção de uma tecnologia padrão e um modelo de negócio.

¿ Os telefones são muito interessantes, mas vai levar tempo para que alcancem uma grande base de comerciantes e consumidores.

Por enquanto, algumas das maiores operadoras de celulares estão observando a tecnologia sem se comprometer com ela. Jim Ryan, vice-presidente sênior de desenvolvimento de produtos da Cingular Wireless, afirmou que a empresa está monitorando de perto o progresso nesta área.